15.6.13

Os professores

Eu fui à escola no tempo em que ela já era boa e ainda só começava a ser violentada.
Eu tive aulas com professores que gostavam de dar aulas e tinham tempo. Nem todos foram bons, mas tive uns quantos muito bons professores.
Por exemplo a minha professora de História do 5º ano fez-me gostar muito de História. A de Inglês do quinto ano também fez-me saber uma das línguas que me são mais úteis hoje em dia e a do 11º fez-me descobrir a literatura anglófona.
O meu professor de matemática do 7º ano fez-me sentir-me mal por ter preguiça de fazer os trabalhos de casa, mesmo quando eram muitos e estava a dar um programa mesmo fixe na televisão.
A minha professora de Português do 12º ano discutia Saramago comigo embora não fizesse parte do programa (só não conseguiu fazer-me gostar de Vergílio Ferreira, mas sisso era uma missão impossível)
A minha professora de Biologia mostrou-me o fascinante mundo das plantas e hoje sou bióloga.

Como à maioria das pessoas da minha geração, os professores foram enchendo a minha vida.
Hoje, ao encherem a Avenida da Liberdade em defesa da Escola Pública, encheram-me as medidas!

14.6.13

A pátria inteirinha na mão dos professores

No contexto da greve dos professores no dia do primeiro exame nacional deste ano várias personalidades têm vindo dizer que o futuro dos alunos, os seus sonhos e aspirações estão a ser postos em causa pelos professores grevistas, aliás pela teimosia do sindicato (a questão semântica interessa).

Parece-me isto muito curioso. Pelos vistos, se os sindicatos não tivessem convocado a greve, se os professores não aderissem a ela e os alunos pudessem fazer o exame nacional o cenário económico-social pátrio seria algo bem diferente:

A taxa de desemprego desceria para níveis nunca imaginados (nem pelas mais optimistas mentes durante o PREC).
Abririamos fábricas em barda, todas cheias de trabalhadores de justos salários e longe, muito longe da falência. Nas notícias apareceriam trabalhadores a abraçar os patrões em vez de exigirem o pagamento de salários em atraso, já de carta de despedimento na mão.
As "pastagens permanentes" do Alentejo seriam semeadas e as terras clamariam por mãos e braços e conhecimento e tecnologia.
O investimento em ciência e tecnologia aumentaria exponencialmente e descobririamos a cura para a SIDA e resolveriamos o problema do aquecimento global.
As crianças iam todas à escola de barrigas aconchegadas e corpos agasalhados.

Verdade verdadinha, se os sindicatos não tivessem convocado a greve, se os professores não aderissem a ela e os alunos pudessem fazer o exame nacional a retoma da economia era coisa certa e seriamos todos completa e genuinamente felizes!