21.3.12

Pelo sonho

Amanhã é dia de Greve Geral. Já o tinha dito no último "post". Mas pareceu-me quando o terminei que, embora estivesse correcto e claro, estava algo "seco". Por isso decidi escrever outro.

Amanhã faço Greve Geral e saio à rua. Como estou em Coimbra vou à praça 8 de Maio às 11h.


Amanhã faço Greve Geral porque tenho um local de trabalho fixo, não tendo um horário fixo cumpro um horário mais ou menos certo todos os dias. Desempenho funções diversas no âmbito de um projecto de investigação financiado pelo Estado através da FCT. Assinei um contrato de dedicação exclusiva. No entanto não tenho um vínculo juridico-laboral, desconto para a Segurança Social o Seguro Social Voluntário correspondente ao ordenado mínimo. Recebo 12 meses e já era isso que ia receber antes de o governo anunciar que roubaria os trabalhadores do subsídio de férias e de Natal. Sou bolseira de investigação científica. Tenho 27 anos e não sei bem o que vou fazer quando acabar a minha bolsa (que já não pode voltar a ser renovada), mas provavelmente esperar-me-á, na melhor das hipóteses, outra bolsa (possivelmente até no mesmo local de trabalho).

Para os leitores mais necessitados de explicações mais explícitas eu desenvolvo.

Amanhã faço greve e saio à rua pelo direito a um emprego seguro e com direitos, pelo reconhecimento do meu desempenho e da minha valia laboral e pelas funções sociais do Estado. Estas condições são fulcrais no desenvolvimento da vida pessoal dos cidadãos.
Sem elas está posto em causa o meu direito a tornar-me autónoma dos meus pais, a estabelecer-me; está em causa uma decisão tão pessoal e emocional como a de ter filhos. Está em causa o meu direito a uma maternidade consciente e feliz.

O discurso oficial é de tal modo derrotista e determinista  que ultimamente me tem parecido que o objectivo é que deixemos serquer de sonhar.
Eu decidi que tente quanto tente, ninguém me fará deixar de sonhar, ninguém me vai castrar os sonhos. Os sonhos não! Mas quanto mais olho para as pessoas à minha volta, mais me parece que até de sonho andamos parcos.

Amanhã faço Greve e saio à rua pelo meu direito a ser útil à sociedade (e não só ao grande capital) e pelo meu direito de construir uma vida e a minha felicidade. Aliás, amanhã faço Greve e saio à rua pelo nosso direito a ser úteis à sociedade e pelo nosso direito de contruir uma vida e à felicidade.
E sim. Amanhã faço Greve e saio à rua também pelo nosso direito a sonhar, a sonhar os nossos pequenos sonhos individuais e os grandes sonhos colectivos também.

Amanhã é dia de Greve Geral!

2 comentários:

  1. Sonhar é mais complicado do que devia ser.

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  2. Sonhar é simples. Sonhar é natural, faz parte da nossa essência.
    Concretizar os sonhos já requer mais esforço, mas se acreditarmos que é possível, então chegaremos lá.
    Espero que tenha corrido bem a manifestação.

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