29.5.10
Nova terapia
Compensação
Não posso dizer
"Demasiados nunca seremos"
nem
"Mesmo que estejamos todos seremos poucos"
nem
"Quantos mais formos mais força teremos"
Enfim, não posso usar a primeira pessoa do plural, tão bonita, de que gosto tanto, tão colectiva, tão integradora, tão carregada de sentimento de pertença e união.
Os argumentos estarão na terceira pessoa, essa tão impessoal (ainda que se chame pessoa), tão distante, tão marginalizante, tão dos "outros", tão desagradável.
Sobra-me um argumento, o único que me parece lógico:
"Eu queria mesmo ir, eu tinha que ir portanto, para tentar compensar, todos os outros do "nós" em que me insiro têm que ir e têm que gritar mais um bocadinho e um bocadinho mais alto do que gritariam."
Claro que este esforço de compensação está condenado ao fracasso desde o princípio porque se fossem todos e eu também, se fossemos todos, a minha seria mais uma voz que lá estaria. Talvez não se notasse muito na multidão, mas era melhor que o muito que se nota que não está lá cada voz que falta.
Quem vai à manifestação trava a batalha para todos, para um colectivo. As vitórias que alcance serão de todos, mesmo dos que não levantaram o rabo do sofá. Mas se sair derrotado a culpa é exclusivamente de quem ficou no sofá.
28.5.10
26.5.10
Uma questão de Soberania Nacional
O Partido Ecologista Os Verdes apresentou hoje dois projectos de lei na AR com vista a contribuir para a nossa soberania alimentar.
Estes projectos defendem a disponibilização de produtos nacionais nos supermercados e a obrigatoriedade de informar os consumidores sobre o valor da compra ao produtor.
A abstenção do PPD-PSD, no primeiro, deixou que o PS chumbasse a proposta que teve voto favorável das restantes bancadas.
O segundo, que permitia (e bem) a demonstração de margens de lucro gigantes e injustas (de uma forma bem melhor do que o chamado mercado justo do qual também se deconhecem as margens de lucro), foi chumbado pelo PS, PPD-PSD e CDS-PP contra o voto favorável das outras bancadas.
Segundo afirmou Heloísa Apolónia (e eu acredito piamente nela) Portugal aumentou a sua dependência alimentar do exterior de 20 para 75% desde 1986 (data de entrada para a CEE).
Tendo em conta estes números eu pergunto, somos realmente soberanos?
Um país que não é capaz de alimentar o seu povo é realmente soberano?
Que Nobel tão pacífico!
Em 2008, durante a campanha presidencial nos EUA, houve muito mexicano a achar que Obama seria um presidente mais favorável para os mexicanos. Acharam que seria mais tolerante, humano, progressista, e eu sei lá que mais esperançadas estupideses baseadas na concentração de melanina e na lábia do senhor.
Ora tomem lá que já almoçaram!
É uma pena, parecia tão bom rapaz, não era? Pois é, mas não lhe interessa muito se quem lhe corta a relva do jardim ou faz as camas onde se deita andou a fugir de tiros ou a morrer de sede no deserto antes de ali chegar.
Governos e govern(ad)os
A 6 de Outubro de 1975 o 1º ministroVasco Gonçalves pedia "Um dia de trabalho para a Nação" e o povo respondia produzindo um resultado financeiro de 13000 contos.
A 25 de Maio de 2010 a ministra do trabalho Helena André, respondendo à possibilidade de uma greve geral convocada pela CGTP, diz que a situação é difícil no país, que é preciso “que todos possam dar as mãos para podermos ultrapassar esta dificuldade”; que “precisamos do empenho de todos os portugueses”.
23.5.10
O PR e as empresas
Segundo o nosso PR (nosso, mas não graças a mim certamente)
"Nunca o país, desde 1974, precisou tanto do contributo dos empresários privados para vencer a crise em que nos encontramos"
E aconselhou mesmo os empresário com quem se reuniu (a saber todos de grandes empresas com investimentos no estrangeiro) a procurar mercados fora do país para colocar os seus productos.
Claro! Estimular o mercado interno nem pensar! Produzir aqui, onde a mão de obra é baratinha, onde o governo ajuda a destruir os direitos dos trabalhadores (de braços dado com o maior partido de "oposição") e onde, com um bocadinho de sorte até a Constituição será um dia deste mais favorável a estas empresas. Às pequenas e médias não, essas devem ser corridas do panorama nacional, banidas, escorraçadas ou simplesmente esmagadas, para abrir caminho para as grandes, essas sim produtivas. Mas sim, produzir aqui como quem produz em Taiwan e depois vender nalgum lado onde os salários possam pagar os preços altos que geram o lucro.
Parece-me um excelente negócio. Para os empresários, claro. Para nós (1ª pessoa do plural, colectivo que somos o povo português) não...
Misericórdia, senhor Presidente da República!
"Cada um de nós pode interrogar-se qual seria a situação do nosso país no domínio da pobreza, da exclusão social, dos idosos, dos deficientes se não existissem as misericórdias, as instituições de solidariedade social, os grupos de voluntariado, as redes de entreajuda que se dedicam ao apoio dos mais fracos e vulneráveis", (disse o PR) e tivesse de um Estado social que assegurasse o direito à saude, à educação e cultura, à habitação condigna, à segurança social, e sobretudo o direito ao trabalho e o direito à segurança no emprego (acrescento eu).
A efectivação dos direitos que enumerei resolveriam os problemas que levam à necessidade de instituições de como as Misericórdias. Instituições geralmente sugadouras de subsídios e dinheiros públicos, sem contas claras, afectas ao estado mais rico do mundo e que não cumprem com o princípio de laicicidade do Estado Português e que discriminam a população de acordo com crenças religiosas.
Todos os direitos que enumerei, como podem dar conta ao seguir os "links" estão consagrados na nossa Constituição, essa que o PPD-PSD tem tanta sanha de mudar.
Senhor Presidente da República, eu gostaria muito mais de um país sem Misericórdias...
"É uma vida decente, não uma ceia ou aguardente o que é justo e há que dar a toda a gente!"
José Barata Moura
Investigação Heróica
Noticiado no Público citando o ministro da Ciência e Tecnologia Mariano Gago.
Mariano Gago salienta ainda que estes artigos são resultado de investigações de "um, dois, três anos, investigações de cinco anos que terminam” e que os investigadores que os publicam “de facto são heróis nacionais”.
Esqueceu-se de dizer que uma boa parte deste heróis é composta por bolseiros, a trabalhar há vários anos como bolseiros, numa precariedade enorme, sem perspectiva de serem contratados porque não há financiamento para contratações novas, sem que nenhum desses anos de trabalho conte para a reforma e sem direito a subsídio de desemprego porque as bolsas não são colectáveis.
Esqueceu-se de dizer que se organizam na Associação de Bolseiros de Investigação Científica, que reivindicam e se manifestam além de levarem a cabo um extraordinário trabalho de investigação.
Sim, são de facto heróicos...
14.5.10
Mas que merda é esta?!
Nos últimos dias andei com a mente ocupada (não distraída), não com o Benfica, nem com a nazi, perdão, papal visita, mas sim com a minha tese e respectiva entrega preliminar. Isto fez com que hoje tivesse as notícias a chegarem-me em catadupa gerando a reacção que serve de título a este post.
A 1ª foi de que a Comissão Europeia quer aprovar orçamentos nacionais antes dos parlamentos.
Não em ofende que tenha sido um português a dizê-lo. Já me habituei a que indivíduos da laia de Durão Barroso sempre serviram e sevirão interesses que nada têm a ver com o país em que nasceram.
Como se não bastasse o ataque explícito à soberania nacional ainda soube que PPD-PSD y PS estão de acordo na subida do IVA num ponto: para 21%, para 6% nos bens essenciais e 13% na restauração e na implementação de uma taxa suplementar no IRC de 2,5% sobre os lucros para as grandes empresas e a banca.
Claro! A comida pode ter 6% de IVA, mas os lucros da grandes empresas (coitadinhas) e da banca (mais coitadinha ainda) tributam-se a 2,5%...
Só porque acho que de palavrões bastou o título é que não escrevo o que me veio à cabeça! Mas uma coisa posso dizer (ou re-dizer e sem perigo de difamação) PS e PPD-PSD são um bando de canalhas mentirosos!
Na função pública, se a situação já era má a novidade é ainda pior! Se já estávamos num processo de diminuir o nº de funcionário público para metade agora da função pública só se sai. As admissões estão congeladas e o congelamento durará "enquanto for necessário", excepto quando o sr. ministro Teixeira dos Santos achar que há fundamento.
Argh! Devia saber que preciso de receber estas notícias devagarinho, para não me irritar ao ponto de poder arranjar um aneurisma...
Agora a parte mais importante: como começar a solucionar isto? A resposta óbvia é votar melhor nas próximas eleições, mas, numa perspectiva mais imediata, é esta:
8.5.10
O Estado e a Educação
"O Estado deve apoiar as famílias que têm filhos no ensino particular e cooperativo, defende João Alvarenga reeleito presidente da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (Aeep) e que hoje tomou posse para mais três anos à frente do organismo."
Então quando li o resto da notícia...
Não é que este senhor acha que o Estado deve apoiar as famílias que têm filhos em colégios privados porque lhe ficará “muito mais barato do que se essas crianças mudarem para a escola pública”. Isto porque estando a criança no sistema público o Estado tem mesmo que gastar o dinheiro dos impostos na educação integral dela.
Diz mesmo: “Quantos mais alunos o Ministério da Educação tiver no privado menos gasta em educação”.
E não duvido que haja muita gente a ir nesta conversa. Esta história do défice tem convencido muita gentinha por esse país fora.
Mas o que diz a nossa Constituição sobre o ensino público, particular e cooperativo é:
Artigo 75.º
Ensino público, particular e cooperativo
1. O Estado criará uma rede de estabelecimentos públicos de ensino que cubra as necessidades de toda a população.
2. O Estado reconhece e fiscaliza o ensino particular e cooperativo, nos termos da lei.
Daqui retiramos que o Estado assegura que o ensino público é capaz de absorver toda a população escolar. É da Lei fundamental, da Constituição. A educação não é uma área para o Estado poupar uns tostões e também não é uma área para o (des)governo dar dinheiro aos amigalhaços.
O ensino é uma área que o Estado financia com o dinheiro dos contribuintes e que serve para a formação da população, o desenvolvimento das capacidades e a formação de cidadãos capazes e úteis à sociedade em qualquer das diversas vertentes que possam escolher.
Onde o estado tem que poupar tostões (ou milhões) é nos negócios mais escuros que as profundezas em que andam aqueles malfadados submarinos.
Onde o Estado tem que assegurar a geração de benefícios é mantendo o carácter público de sectores chave da economia, empresas estatais que geram dividendos e criam postos de trabalho. É investindo nessas empresas em vez de as vender ao melhor postor (ou ao melhor financiador eleitoral).
É tributando as transacções especulativas, improdutivas e tantas vezes trapaceiras da banca.
E há tantas outras possibilidades!
Agora poupar uns tostões dando ao ensino privado o que devia investir no público? Não, senhor João Alvarenga! Assim não!
No 65º aniversário do fim do Nazi-fascismo
É preciso porque há muitas atrocidades que, sem que sejam documentadas como as nazis, acontecem por todo o mundo e não podem ficar impunes.
A propósito, recomendo o comunicado de Federação Mundial da Juventude Democrática.
Tambén deixo aos visitantes o brilhantismo e o enorme e profundo humanismo do Chaplin que em 1940 soube fazer um dos mais bonitos, necessários e justos discursos políticos que já ouvi.
Disfrutem, lembrem e lutem!
Que nunca mais!
6.5.10
Recomendo vivamente
Excelente blog este Anónimo do séc XXI...
1.5.10
1º de Maio - 120 anos
Na luta pelas 8 horas de trabalho diário diversas organizações de trabalhadores dos EUA convocam uma greve de enormes proporções para o 1º de Maio de 1886.
Em Chicago dezenas de milhar de trabalhadores em greve reúnem-se em manifestação, a repressão policial faz-se sentir de maneira violenta em muitas empresas.
A 4 de Maio, num comício de solidariedade com os trabalhadores de uma empresa onde a repressão chegara a provocar mortos e feridos graves foi lançada uma bomba para o meio do público. A pretexto da bomba muitos quadros sindicais são presos e condenados a trabalhos forçados. Oito deles foram condenados à morte e enforcados.
No congresso fundador da II Internacional (Paris, 14 de Julho de 1889) os "mártires de Chicago" são homenageados e a data 1º de Maio proclamada como jornada de luta por direitos laborais a nível mundial.
Nos 120 anos do 1º de Maio continua a fazer falta sair à rua e defender e exigir direitos laborais. Tristemente. no nosso país até faz de novo sentido lutar-se pelas 8 horas de trabalho diário, direito que a flexibilidade horária e o trabalho por turnos querem distorcer ou mesmo ignorar.
O 1º de Maio é para se sair à rua, com muita, muita gente e gritar e exigir e defender os direitos que são nossos. Em Portugal é afirmar Abril, com o ideal que o liderou, como em Maio de 1974.
Eu, pelo 3º ano consecutivo, não irei a nenhuma manifestação, não gritarei nem exigirei. Vivo numa terra onde os caciques mandam, onde as estruturas sindicais estão minadas pelo patronato, onde as pessoas trabalham muitas vezes de sol a sol, onde os indígenas são tratados abaixo de cão e onde a propaganda consegue mesmo difundir o individualismo. Onde o exército patrulha as ruas e ninguém acha estranho, onde crianças de 3 ou 4 anos vendem cigarros, pastilhas elásticas e rosas, às 3 da manhã, em bares onde se consome cocaína.
Hoje o mercado tem os postos todos abertos e muita gente como todos os sábados, os supermercados estão abertos, os mini-mercados também, todas as lojas, restaurantes, cafés, tudo.
Chiapas pode ser muito neo-zapatista, mas está muito longe de ter 1º de Maio...