Como o prometido é devido voltamos a ter "Pessoas bonitas" na Eira. E elas regressam em grande!
A pessoa bonita de hoje é o Adriano Correia de Oliveira.
Este ano cumprem-se 25 anos sobre a morte do Adriano que morreu claramente cedo demais, aos 40 anos de idade (outros há que morrendo com menor idade já morreriam tarde, mas este não).
O Adriano foi um homem completo, de vida cheia e dedicada.
Soube aproveitar como poucos o que a vida estudantil coimbrã tem para oferecer bem para além da formação académica. É da secção de volei da AAC, do Orfeon académico, do Grupo Universitário de Danças Regionais, do Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra, da Tuna Académica, repúblico na Rás-Teparta, dos órgãos sociais da AAC e grevista em 1962.
Em 1960 entra para o Partido Comunista Português é activo na luta anti-fascista.
Canta, o Adriano canta. Canta tanto, canta tudo! O Adriano canta "Venho dizer-vos que não tenho medo!" no tempo em que o medo era rei. Canta a tristeza do fado de Coimbra, numa voz que não era de fado, era melhor. Canta a canção tradicional portuguesa, canta a revolução onde e quando fosse preciso.
Sobretudo o Adriano canta-nos.
Neste ofício em que era mestre fez imensas parcerias: com Manuel Alegre, José Calvário, José Niza, Rui Pato, António Portugal e tantos outros. Cantou por todo o lado, para grandes audiências e pequenos encontros; em Portugal e no estrageiro.
Adriano construiu a Revolução antes e depois dela.
Em 1979 ajuda a fundar a cooperativa artística Catarabril da qual acaba por ser afastado mais tarde juntando-se à Era Nova.
O último concerto do Adriano foi em Mondim de Basto em 1982, num encontro do PCP numa escola.
Nesse ano morre em Avintes, vítima de uma hemorragia esofágica e nós perdemos todos um excelente cantor e revolucionário.
O Adriano é uma das pessoas que tenho mais pena de não ter conhecido, mas já nasci tarde para isso. Ele fugiu-nos muito cedo. É uma pessoa extraordinariamente bonita,com uma voz que o espelha bem.
Para ouvir deixo-vos uma canção do seu último disco, "Quando eu cheguei ao Barreiro", tradicional Portuguesa, do Alentejo. Lembro-me dela muitas vezes quando penso na quantidade enorme de gente nova que conheço que migra para a capital ou para o estrangeiro, como se fazia há 50 anos, em busca de trabalho e outra vida.
É porque nós merecemos outra coisa, "coisa boa" que lutamos, mas também porque gente como o Adriano merece que o que cantava há tantos anos não seja ainda tão terrivelmente actual.
Dia 22 de Março é dia de Greve Geral!
-Quando eu Cheguei ao Barreiro-
-Canta Adriano Correia de Oliveira-
-Quando eu Cheguei ao Barreiro-
Vou-me embora p'ra Lisboa
Porque a vida cá é má.
À busca de, de coisa boa
Pergunto não encontro cá.
À busca de, de coisa boa
Pergunto não encontro cá.
Quando eu montei o comboio
Que assoprava pela via.
Às vezes penso comigo e digo
Não sei que sorte é a minha.
Às vezes penso comigo e digo
Não sei que sorte é a minha.
Quando eu cheguei ao Barreiro
No barco que atravessa o Tejo.
Chora por mim qu'eu choro por ti
Já deixei o Alentejo.
Chora por mim qu'eu choro por ti
Já deixei o Alentejo.