21.9.11

No dia internacional da Paz



Hoje é o dia internacional da Paz. Uma senhora de quem gosto muito diz (e não sem razão) que os governantes em geral criam um dia internacional para todas as causas a propósito das quais não tencionam fazer nada.
Ainda assim nada nos impede de aproveitar esses dias para darmos uma voz especial a essas causas (mas convém não nos esquecermos de fazer por elas todos os dias).

No dia internacional da Paz seguramente haverá mortos em muitas guerras, no Afeganistão, no Iraque, na Líbia, na Palestina (para esses parece que a guerra nunca acaba). Haverá mortos onde nem nos lembramos que há guerra, no México, no Iémen, na Colômbia, nas Honduras (e em demasiados outros). Haverá os mortos do absurdo da guerra das farmacêuticas contra a Humanidade (que outra não é que a do capitalismo contra a Humanidade), ou seja, os que morrem de cólera e paludismo, de sarampo, de tuberculoses, de coisas estúpidas dessas com curas simples e baratas, mas caras demais para quem delas sofre.

No dia internacional da Paz decorrerá ainda a mais longa, feia e mortífera de todas as guerras, a Fome (também essa mais uma cara da guerra do capitalismo contra a Humanidade e o Humanismo).

No dia internacional da Paz deixo cá na Eira um dos maiores lutadores pela Paz (ainda que possa parecer um paradoxo não o é) de que tenho conhecimento. Este não tem o prémio Nobel da Paz, mas pensando bem nos laureados, talvez até fosse insultuoso para ele ser-lhe atribuído.
No dia mundial da Paz deixo cá na Eira o Pete Seeger.



19.9.11

Só ao tiro!

Hoje no Público:

"todos os restaurantes têm sobras, comida boa que normalmente vai para o lixo, e há cada vez mais pessoas carenciadas, a quem o desemprego bateu à porta ou cujo salário não chega para comer. "Só é preciso que alguém faça a ponte entre as duas realidades." "

Pois é, quando o problema é desemprego ou o salário não chegar para comer é preciso é caridadezinha!
É preciso um "voluntário" que leve a comida que seria desperdiçada num restaurantes, às escondidas, àqueles que querendo trabalhar não o podem fazer ou que (e esta então, ignomínia sem nome) trabalhando, têm um salário que não lhes chega para comer.

É incrível! A notícia deste esterco de jornal consegue dar conta de situações que deviam envergonhar os que nos falam de apertar os cintos e nos deitam as culpas da crise por causa de um crédito de habitação que o banco nos impingiu e sugere que a solução para dar de comer às pessoas é sopa que chega azeda ao destino!

Só ao tiro!

11.9.11

No 11 de Setembro



Não ter televisão poupou-me hoje ao bombardeamento (salvo seja) de notícas sobre o 11 de Setembro de 2001. A julgar pela página inicial do Público online ainda bem...

Sinto quase sempre um cansaço considerável quando ouço notícias sobre o 11 de Setembro de 2001, com uma leve pitada de irritação.
Não é que não entenda que o desmoronar das torres representou um enorme drama humano para milhares de pessoas e famílias, isso entendo perfeitamente. O que me irrita realmente é o aproveitamento que desse drama é feito. Com esse drama se justificou o esforço de guerra adicional dos EUA por todo o mundo, mas sobretudo no Médio Oriente. Com ele se manipulou e embruteceu um povo, aproveitando e potenciando medos, o medo da guerra e o da destruição, mais do que justos e fundados, diria mesmo que óbvios (afinal, não há povo que não procure a Paz).

Com o ataque ao World Trade Center se vitimizou um governo assassino e sanguinário, na linha de outros governos igualmente assassinos e sanguinários do mesmo país. Seguidores de uma mesma política de ingerência politico-militar em estados soberanos e de uma economia em que o prato da balança em que se colocam os barris de petróleo pesa sempre mais do que o das vidas humanas.

Podemos acreditar na versão de vítima do governo dos EUA ou nas teorias da conspiração que nos dizem que tudo aquilo foi orquestrado pelo próprio governo Bush (e o Obama não desaproveitou nada), ou mesmo em nenhuma das duas. Em qualquer dos casos não podemos deixar de concluir que todo aquele drama humano, toda aquela morte e todo o horror do 11 de Setembro de 2001 (que o foi para muitas, muitas famílias) se devem à política de guerra, de desrespeito pelo direito internacional e pela auto-determinação dos povos desde sempre levada a cabo pelos governos dos EUA. Política bem evidenciada pela célebre frase do Henry Kissinger (sim, esse que foi Nobel da Paze m 1973) a propósito do Chile: "I don't see why we need to stand by and watch a country go communist due to the irresponsibility of its own people." ("Não vejo porque precisamos de ficar parados a ver um país tornar-se comunista devido à irresponsabilidade do seu próprio povo").

O 11 de Setembro de 2001 é consequência exactamente das mesmas opções politico-económicas, da mesma estratégia de relações internacionais, da responsabilidade do governo dos EUA, que o 11 de Setembro de 1973. Esse claramente um atentado da Casa Branca, um crime hediondo sobre o povo chileno, crime que não começou nem acabou nessa data nem nesse país. A manipulação da comunicação social, o untar de mãos, a agitação, as greves pagas em dólares, os atentados e os assassínios (como o do general René Schneider) começaram anos antes a preparar o golpe. Mas não ficaram pelo 11 de Setembro de 1973, os assassinatos, as prisões políticas, as torturas, e estenderam-se no tempo e no espaço (disso é exemplo o assassinato do general Carlos Prats e da sua esposa no exílio em Buenos Aires).

O tratamento que é feito pela comunicação social do 11 de Setembro de 2001 é vergonhoso! O drama humano de todas as famílias de algum modo afectadas pelo ataque às torres gémeas, consequência directa da política dos EUA é usado para apagar da memória um dos mais feios crimes dos EUA contra um povo (o chileno) e para justificar acrescidas agressões a povos soberanos (sem esquecermos que o primeiro agredido, ainda que de forma bem diferente, é o povo dos Estados Unidos da América).

No 11 de Setembro, sem menosprezar o sofrimento vivido nos EUA em 2001, lembro Salvador Allende,  homem recto e de palavra, que cumpriu o mandato que o seu povo lhe deu até às últimas consequências e fico com o exemplo do que um Homem deve ser.