Na quarta classe chegou à nossa sala uma menina nova, a Rosa. Era só Rosa, nesse tempo (e nessa escola) as crianças não usavam apelidos a menos que houvesse nomes próprios repetidos, o que, sendo nós 15, era improvável. O tempo dos apelidos chegava mais tarde, no ciclo, quando já éramos nós a preencher os impressos da burocracia de início de ano e não os nossos encarregados de educação. Na escola primária a Rosa era só Rosa.
30.6.22
"Minha mãe chamou-me Rosa"
Na quarta classe chegou à nossa sala uma menina nova, a Rosa. Era só Rosa, nesse tempo (e nessa escola) as crianças não usavam apelidos a menos que houvesse nomes próprios repetidos, o que, sendo nós 15, era improvável. O tempo dos apelidos chegava mais tarde, no ciclo, quando já éramos nós a preencher os impressos da burocracia de início de ano e não os nossos encarregados de educação. Na escola primária a Rosa era só Rosa.
26.6.22
Se a hipocrisia pagasse imposto
Em 22 de Janeiro de 1973 a Suprema Corte dos Estados Unidos da América entendeu que o direito ao respeito à vida privada garantido pela Constituição daquele país se aplicava ao aborto, tornando-o legal em todo o território, independentemente das leis de cada estado sobre o tema. A 24 de Junho de 2022 a Suprema Corte derrubou essa decisão e devolveu aos estados o poder de decisão sobre a criminalização do aborto.
No seguimento das notícias sobre essa decisão várias personalidades à cabeça de várias instituições vieram pronunciar-se. Por exemplo:
“O secretário-geral (António Guterres) há muito que acredita que a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos são a base de uma vida de escolha, empoderamento e igualdade para as mulheres e raparigas do mundo” Farhan Haq (porta-voz da ONU)
Não consigo deixar de achar curiosa esta formulação. Não sei quanto tempo é muito tempo para o Eng. António Guterres, mas eu lembro-me que a posição dele sobre a saúde e os direitos reprodutivos da mulher não era bem essa há 24 anos, quando o seu próprio partido (PS) propôs e fez aprovar na Assembleia da República um projeto de lei que previa a legalização da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG), a pedido da mulher durante as primeiras 10 semanas. Nessa altura, o beato então Primeiro Ministro do Governo Português fez um acordo com o então líder do PPD-PSD Prof. Marcelo Rebelo de Sousa obrigavam o país a um passo atrás fazendo um acordo para a realização do primeiro referendo do país, precisamente sobre a despenalização da IVG. Eram, pelo menos à época, ambos contra a despenalização da IVG a pedido da mulher.
Até chegarmos aqui já tinha havido várias iniciativas legais neste tema:
- Novembro de 1982, pelo PCP, um projeto de lei prevendo a despenalização da IVG, até às 12 semanas que foi chumbado;
- Janeiro de 1984, pelo PS, um projeto de lei que previa a despenalização da IVG em caso de perigo para a saúde física e psíquica da mulher, violação e malformação do feto, que foi aprovado e que, na prática, mantinha o aborto clandestino uma vez que não bastava a vontade da mulher para que pudesse acontecer.
- 1996, três projetos de lei: um pelo PCP e outro pelo PS que despenalizavam a IVG até às 12 semanas a pedido da mulher e outro que alargava os prazos para a IVG legar no caso de malformação do feto e de violação, também pelo PS.
- Janeiro 1998, a par com o projeto de lei apresentado pelo PS o PCP apresentou também um projeto de lei visando a despenalização da IVG a pedido da mulher, nas primeiras 12 semanas.