11.9.11

No 11 de Setembro



Não ter televisão poupou-me hoje ao bombardeamento (salvo seja) de notícas sobre o 11 de Setembro de 2001. A julgar pela página inicial do Público online ainda bem...

Sinto quase sempre um cansaço considerável quando ouço notícias sobre o 11 de Setembro de 2001, com uma leve pitada de irritação.
Não é que não entenda que o desmoronar das torres representou um enorme drama humano para milhares de pessoas e famílias, isso entendo perfeitamente. O que me irrita realmente é o aproveitamento que desse drama é feito. Com esse drama se justificou o esforço de guerra adicional dos EUA por todo o mundo, mas sobretudo no Médio Oriente. Com ele se manipulou e embruteceu um povo, aproveitando e potenciando medos, o medo da guerra e o da destruição, mais do que justos e fundados, diria mesmo que óbvios (afinal, não há povo que não procure a Paz).

Com o ataque ao World Trade Center se vitimizou um governo assassino e sanguinário, na linha de outros governos igualmente assassinos e sanguinários do mesmo país. Seguidores de uma mesma política de ingerência politico-militar em estados soberanos e de uma economia em que o prato da balança em que se colocam os barris de petróleo pesa sempre mais do que o das vidas humanas.

Podemos acreditar na versão de vítima do governo dos EUA ou nas teorias da conspiração que nos dizem que tudo aquilo foi orquestrado pelo próprio governo Bush (e o Obama não desaproveitou nada), ou mesmo em nenhuma das duas. Em qualquer dos casos não podemos deixar de concluir que todo aquele drama humano, toda aquela morte e todo o horror do 11 de Setembro de 2001 (que o foi para muitas, muitas famílias) se devem à política de guerra, de desrespeito pelo direito internacional e pela auto-determinação dos povos desde sempre levada a cabo pelos governos dos EUA. Política bem evidenciada pela célebre frase do Henry Kissinger (sim, esse que foi Nobel da Paze m 1973) a propósito do Chile: "I don't see why we need to stand by and watch a country go communist due to the irresponsibility of its own people." ("Não vejo porque precisamos de ficar parados a ver um país tornar-se comunista devido à irresponsabilidade do seu próprio povo").

O 11 de Setembro de 2001 é consequência exactamente das mesmas opções politico-económicas, da mesma estratégia de relações internacionais, da responsabilidade do governo dos EUA, que o 11 de Setembro de 1973. Esse claramente um atentado da Casa Branca, um crime hediondo sobre o povo chileno, crime que não começou nem acabou nessa data nem nesse país. A manipulação da comunicação social, o untar de mãos, a agitação, as greves pagas em dólares, os atentados e os assassínios (como o do general René Schneider) começaram anos antes a preparar o golpe. Mas não ficaram pelo 11 de Setembro de 1973, os assassinatos, as prisões políticas, as torturas, e estenderam-se no tempo e no espaço (disso é exemplo o assassinato do general Carlos Prats e da sua esposa no exílio em Buenos Aires).

O tratamento que é feito pela comunicação social do 11 de Setembro de 2001 é vergonhoso! O drama humano de todas as famílias de algum modo afectadas pelo ataque às torres gémeas, consequência directa da política dos EUA é usado para apagar da memória um dos mais feios crimes dos EUA contra um povo (o chileno) e para justificar acrescidas agressões a povos soberanos (sem esquecermos que o primeiro agredido, ainda que de forma bem diferente, é o povo dos Estados Unidos da América).

No 11 de Setembro, sem menosprezar o sofrimento vivido nos EUA em 2001, lembro Salvador Allende,  homem recto e de palavra, que cumpriu o mandato que o seu povo lhe deu até às últimas consequências e fico com o exemplo do que um Homem deve ser.

3 comentários:

  1. A história tem incontáveis episódios amargos, de recuos dolorosos. A proximidade temporal deste dá-lhe uma intensidade maior. É com exemplos destes que vamos alimentando a esperança.

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  2. "ficou", na última linha, De resto, um excelente início para o texto que tens para escrever :)

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  3. A memória das ignomínias não pode ser manipulada, enquanto houver alguém que resista.

    http://bonstemposhein.blogspot.com/2007/09/as-datas.html

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