25.6.10

Tão a propósito

que nem de propósito!

Meu caro Amigo

(Chico Buarque e Francis Hime)





Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando e também sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se me permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus


24.6.10

Céus! #4

Ana Martins, Junho de 2010 em Cholula, Estado de Puebla, México

23.6.10

As Vacances

Ora bem!
Estou de mini-férias (férias de qualquer forma e merecidas).

Prometo "postar" fotografias e relatos daqui a uns dois ou três dias. Até lá, divirtam-se que eu também farei por isso.

18.6.10

Saramago

Aos 16 anos li o Evangelho segundo Jesus Cristo, recém chegada do Primo Basílio, Do crime do Padre Amaro e do sempre delicioso Conde de Abranhos. Infelizmente não voltei a ler Eça (embora me faltem vários de leitura quase obrigatória), mas nunca deixei de ler Saramago.

Quando, no México, senti o português a fugir por fala de prática pedi aos meus pais livros do Saramago . Naturalmente gosto mais de uns do que de outros (tipicamente mais dos mais antigos e menos dos mais recentes). Uns deram-me grandes delícias, outros consideráveis desilusões (sobretudo ao nível da história). O que guardo sempre de Saramago e lhe agradeço profundamente é a delícia da sua escrita cuidada (embora o castelhano tenha feito os seus estragos), aliada à sua enorme e fértil imaginação. A sua mestria na cativante descrição das relações entre personagems perfeitamente monótonas e desse fluído encadear de divagações às vezes tortuosas, sem nunca perder o fio da história.

Claro que também me indignei muitas vezes com as suas palavras, a meu ver irreflectidas em diversas ocasiões. Mas de Saramago guardo a memória de muitas horas bem passadas, na companhia de marinheiros em terra, construtores de passarolas, cães que secavam lágrimas, almuadens e revisores, profetas que conversam com Deus e o Diabo, oleiros, formigas que tudo testemunham, bichos do caruncho que matam ditadores, mulheres a dias que de barcos fazem ilhas, pastores que trocam números de campas no cemitério e tantos outros, tão cinzentos e interessantes ao mesmo tempo. E, sem nada de literário, também guardo a memória de um aperto de mão muito mais firme do que a minha idade permitia corresponder.

17.6.10

Céus! #3

Ana Martins, Coapilla, Chiapas, México, Agosto 2008

16.6.10

E finalmente

Depois de vários meses de gestação e mais ou menos duas horas de parto aqui está ela!


O motivo da minha falta de leitura das notícias nacionais e internacionais!


15.6.10

Céus! #2

Ana Martins, Chiapas, México, Novembro de 2009

14.6.10

Coitados dos refugiados

Céus! #1

Ana Martins, Serra da Estrela, Setembro de 2009

Costumo dizer que os céus mais bonitos que já vi, vi nos Altos de Chiapas. Ao pensar nisto lembrei-me de que tenho diversas fotografias do céu, visto de diversos sítios e decidi partilhar.

Sem periodicidade certa "Céus!" é uma nova rúbrica recorrente da Eira. Espero que gostem.

13.6.10

Pequena e insignificante

Há quem pense no Universo, na sua grandeza e na sua grandiosidade para se maravilhar enquanto se sente pequenino e insignificante.

Eu não preciso de ir tão longe. Vou aos humanos. Mais precisamente nos humanos comunistas portugueses.

São tantos que fizeram tantas coisas tão grandes, grandiosas e importantes para a vida de milhões de pessoas! A maioria nem sequer conheço, nunca ouvi falar e não ouvirei. Ou dou conta do que fizeram por nós quando morrem, porque são gente simples, que mais que fazer alarde trabalha; e eu, que não tive a sorte de os conhecer só dou conta deles enquanto indvíduos quando chega a notícia da morte, essa sim justamente noticiada e sentida por alguns.

O Álvaro Cunhal é um desses grandes, inteligentes, multi-facetados, humanistas e humanos, de vida cheia e cheia de trabalho para o colectivo, para um colectivo internacional e internacionalista. Felizmente não entra na categoria dos anónimos, um ser humano íntegro e integral como Álvaro Cunhal não poderia ficar no anonimato.

O Álvaro Cunhal é um desses que me maravilham, que me fazem sentir pequenina e insignificante e profundamente feliz por estar no mundo com pessoas como ele.

8.6.10

Passem a palavra

A pedido do Cravo de Abril e porque isto também faz parte de ser a muralha de aço, aqui passo palavra também apesar de não poder apareçer:

VASCO GONÇALVES foi, entre todos os militares de Abril, a figura maior da nossa Revoluçãol - e sua intervenção singular em todo o processo revolucionário fez dele uma figura maior da história de Portugal.
Ele foi o primeiro - e até agora único - primeiro-ministro português que, no desempenho desse cargo, teve sempre como primeira prioridade, paralelamente à defesa da independência nacional, a defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo, ou seja, da imensa maioria dos portugueses.

Por isso, o Companheiro Vasco ficará para sempre na memória e no coração dos trabalhadores, do Povo e do País.

Por iniciativa de um grupo de amigos de Vasco Gonçalves, e de familiares deste, efectua-se, no próximo dia 11 - dia em que passa o 5º aniversário do seu falecimento - uma Romagem ao Cemitério do Alto de São João.
É às 11 horas.
E aqui fica a convocatória.


Passem palavra.
E apareçam.

5.6.10

A pedagogia da desertificação


"Nós não queremos isso, só pensamos no interesse das crianças, é um interesse meramente pedagógico, quando pensamos em encerrar essas escolas"

- José Sócrates

Entre as várias desculpas nuas (já nem esfarrapadas são) que o governo dá para o fecho de escolas estão a maior taxa de insucesso escolar nas escolas com menos de 20 alunos.

Segundo todos os psicólogos e especialistas da educação urmas mais pequenas e ensino mais dirigido dão melhores resultados de aprendizagem, mas o nosso PM tem certeza que é o número reduzido de alunos que causa o insucesso nas escolas em causa.

Não lhe ocorreu que os maus resultados se devam a colocação de professores com pouca experiência, pouca vontade de estar numa terra longe da sua, longe da sua família, permanentemente deslocalizados, mal pago e desrespeitados todos os dias. Nem lhe ocorreu que se devam a pobres condições materiais dessas escolas.

Seguramente não lhe ocorreu que anti-pedagógico e anti-social é fazer crianças percorrerem sei lá quantos quilómetros para ir à escola roubando-lhes de uma só vez tempo de estudo e de brincadeira Roubando-lhes o saudável regresso a casa a pé em companhia dos vizinhos, o almoço preparado e comido em casa. Privando toda a família do tempo de convivência e privando os miúdos de toda uma localidade do contacto com as pessoas que nela habitam, desenraízando-os e, ao fim ao cabo, mandando-os embora.

É a pedagogia da desertificação.

Saúde é o que eu lhe desejo


Agora a preocupação é com que, por mudança de localização, haja localidades sem farmácias e com a falta de voto da matéria por parte das autarquias.

"É que desde 2007 deixou de ser necessário qualquer parecer das autoridades, como sucedia até então. Desde esse ano mudaram de local 260 farmácias, metade para zonas com mais população. Em muitas zonas do interior do País, algumas localidades perderam a única farmácia que tinham obrigando os utentes, a maioria idosos, a percorrer quilómetros para obter medicamentos."

Mas digam-me lá que não é lógico! Se se podem fechar os centros de saúde, as maternidades os SAPs sem perguntar nada às autarquias, porque é que há-de haver farmácias? Se não é preciso quem prescreva medicação, porque seria precisa a medicação?

Pois... Se a Saúde fosse mesmo pública, se fosse o direito que devia ser segundo a nossa Constituição, a música era outra...

4.6.10

Israel, EUA e a Paz

O pacifismo deste Nobel da Paz já deixou de me surpreender há uns tempos, agora cansa-me profundamente ao mesmo tempo que continua a indignar-me.

2.6.10

Os bons e o Futuro


É notável como os bons, mesmo velhotes, nunca deixam de olhar em frente, para o Futuro que queremos, planeando a tarefa presente.

"Hoje já não há medo da PIDE, da censura, das perseguições políticas (à velha maneira...), mas em contrapartida criaram-se outros medos também inimigos da liberdade: medo do desemprego, medo de não ter condições para uma velhice feliz, medo de não conseguir educar os filhos, medo de não ter acesso à saúde, todos estes medos continuam a existir, e todos eles têm de ser combatidos em nome de uma liberdade que o país conseguiu com o 25 de Abril".

-Almirante Rosa Coutinho

Mais um adeus carregado de gratidão.

1.6.10

Alegres preocupações em bloco

Segundo Francisco Louçã

“A campanha presidencial não é uma campanha dos partidos, não depende de nenhum apoio, é a campanha de um candidato, que tem um programa, e quando Manuel Alegre tomou posição sobre o Código do Trabalho, sobre as privatizações ou sobre a Justiça ou sobre a solidariedade, ele tem uma preocupação que é partilhada pelo povo da esquerda, que é responder à desigualdade”


Dando de barato os erros de concordância e indo ao que interessa, pergunto eu:

Também teve essa preocupação quando apoiou o PS nas últimas legislativas?
Então e quando fez campanha pelo PS nessas eleições?
E ainda que seja secreto, então e quando votou PS para que os seus correlegionários levassem a bom porto o dito Código do Trabalho e as privatizações?

A mim parece-me que o Manuel Alegre partilha muito pouco com o povo português, muito menos a preocupação de responder à desigualdade.

1 de Junho


Foi essa a data adoptada pelas Nações Unidas para assinalar o primeiro Dia Mundial da Criança.. Quando me lembraram que dia era hoje lembrei-me também da Declaração Universal dos Direitos da Criança. Agarrada a esse fio de pensamento chegou a memória dos pacotes de leite escolar que bebia na Escola Primária nº 10 de Coimbra.

No fim do intervalo, suados e empoeirados do jogo de futebol recém acabado sentávamo-nos nos degraus do estrado da velha sala de aulas e bebíamos o leite achocolatado que o colega escolhido nesse dia tinha ido buscar. A minha sala de aula da escola primária era dessas antigas que ainda tinham um estrado que tornava o professor ainda mais imponente e o punham aluno chamado ao quadro ainda mais em exposição, mas também que serviam de palco para as ocasionais encenações de algum texto mais propício.

Então, dizia eu, sentávamo-nos a beber o leite achocolatado, o leite escolar, que vinha nuns pacotinhos de 20cl muito giros cada um com um princípio da Declaração Universal dos Direitos da Criança e um desenho alusivo. Eram desenhos a duas cores se não estou em erro, azulados, de bonequinhos muito geométricos. Costumávamos ver qual tinha cada um de nós, qual nos tinha "saído" como se fosse um cromo, mas a mensagem passava.

Esses pacotes de leite foram o meu primeiro contacto com a Declaração Universal dos Direitos da Criança. Lembro-me que o que mais me marcou foi o direito da criança, desde o nascimento, a um nome e uma nacionalidade. Eu sabia que havia trabalho infantil, crianças que passavam fome, que não iam à escola, que não iam ao médico quando estavam doentes, que havia pessoas que eram racistas (felizmente nenhuma na minha turma). Mas desconhecia a condição de apátrida e não me cabia na cabeça que alguém pudesse não ter nome.
Lembro-me de me ter sentido muito afortunada, porque se tinha que estar escrito em algum lado era porque nem sempre se cumpria (disso eu já tinha dado conta).

Procurei imagens desses pacotes para deixar aqui, mas não encontrei. Fica uma dos Pioneiros de Portugal