27.12.12

Na nossa varanda


o Natal também é vermelho, mas um pouco mais primaveril!

(Ana Martins, Coimbra, Dezembro 2012)

19.12.12

Um pedacinho de Céu baratinho, baratinho.

Aproxima-se o Natal! Esta quadra, além de aumentar a a quantidade de anúncios a brinquedos e a presença de mascotes feiosas na televisão, provoca nas pessoas uma súbita necessidade de ganhar um lugarzinho no Céu (em maiúsculas por ser o dos cristãos em vez do de todos os dias).
Para os que nascemos num país maioritariamente católico é mais ou menos óbvio que para assegurar a paradisíaca vida no além o caminho é ajudar (pelo menos) um pobrezinho. Felizmente para as almas caridosas deste país, nesta época festiva, também se multiplicam as banquinhas de recolhas de fundos nos corredores dos centros comerciais, a venderem canetas, peluches ou autocolantes. Multiplicam-se as abordagens nas ruas da baixa "Bom dia, jovem!"ou "Nem que seja uma moedinha já uma ajuda!" e à porta do hipermercado está a mão que nos estende um saco do Banco Alimentar Contra a Fome.

Comprar um lugarzinho no Céu é fácil! A oferta é grande e o preço dos lotes desce. Nestas condições não é de estranhar a incredulidade de compradores e vendedores quando encontram alguém que não quer comprar um lacinho, oferecer um quilo de arroz ou dar uma moedinha a uma qualquer ONG de contabilidade obscura.

Curiosamente eu não acredito na caridadezinha, não dou aos pobres e desvalidos, não alimento ONG, nem quem vive às custas da pobreza alheia.
Acredito que o Trabalho é um direito e que o salário deve ser suficiente para permitir às pessoas viverem uma vida digna e plena. Acredito que se as pessoas tivesem emprego e os seus impostos servissem para assegurar as prestações sociais que o Estado deve aos cidadãos não precisariamos de caridade.

Boas Festas!



16.10.12

Quem és tu assim tão simples?

Hoje, como é habitual, acordei com a Antena 1 e ouvi uma reportagem sobre o pão caseiro no distrito de Bragança (ouvir aqui). São dois minutos de reportagem que acabam magistralmente:

"Antigos fornos de pão agora com mais actividade Numa fornada de pão as famílias economizam muito dinheiro e têm a garantia de um pão de excelente qualidade."

Esta reportagem lembrou-me um texto do meu livro de Língua Portuguesa da 4ª classe chamado "A cidade e a aldeia". É a exaltação da ruralidade empobrecida, "A alma de Portugal" que vive num casebre desprovido de electricidade. Eu gosto muito de pão caseiro, mas foi isto que a reportagem de hoje me lembrou.


"A Cidade e a Aldeia"
(Abílio Mesquita)

Cidade - Quem és tu, assim tão simples?
Aldeia - E tu, quem és a final?
Cidade - A nobreza da Cidade.
Aldeia - Aldeia de Portugal.
Cidade- Tenho lindas pedrarias,
              Jóias mil de muitas cores...
Aldeia - E eu tenho maior riqueza
              Nas minhas tão lindas flores...
Cidade - Tenho risos, alegrias
              Divertimentos constantes
Aldeia - Tenho a música dos ninhos
              E canções inebriantes.
Cidade - Tenho luz de noite a jorros,
              E não me levas a palma.
Aldeia - Tenho o Sol durante o dia,
              De noite a luz da minha alma...
Cidade - Vivo em palácios vistosos
              Que abundam pela Cidade.
Aldeia - E eu num casebre pequen0,
              Que o Sol beija com vaidade!
Cidade- A História fala de mim,
              Porque tenho algum valor...
Aldeia - Também tenho a minha História,
              Escrita com o meu suor
Cidade - Tenho o luxo que tu vês
              Próprio da minha grandeza.
Aldeia - E eu o luxo e a vaidade de gostar da singeleza!
Cidade - Sou mais rica do que tu,
              Que nada tens afinal!
Aldeia - Tenho aqui dentro do peito:

              "A ALMA DE PORTUGAL"!!!


Eu nasci depois de uma década de liberdade e estudei (felizmente) na escola pública de Abril. No entanto, o meu livro conservava algumas heranças do obscurantismo fascista, provando que há amarras bem difíceis de cortar...

28.9.12

Para recordar

o grande Victor Jara que devia hoje celebrar o seu 80º aniversário.

Ni Chicha ni limonada

28.8.12

Céus! #13



Trás-os-Montes, Agosto 2012
Ana Martins

25.8.12

Pequenas delícias da nossa Constituição #15

A propósito da destruição do serviço público de rádio e televisão:

" O Estado assegura a existência e o funcionamento de um serviço público de rádio e de televisão."

- Ponto 5, Artigo 38º Liberdade de imprensa e meios de comunicação social, 
Constituição da República Portuguesa

1.8.12

Abril e o novo acordo ortográfico


Hoje escrevi "abril" ou seja, à novo acordo ortográfico, sem maiúscula, só com letras minúsculas.

Como sou um bocado bota de elástico ainda não me tinha dedicado a escrever segundo as regras do novo acordo ortográfico e é-me mesmo algo desconfortável ter que mudar a maneira como escrevo.

Por exemplo faz-me confusão que o tecto passe a ser o masculino de teta (por mais que enquanto mamífero deva gostar de glândulas mamárias) ou que os egipcios deixem de ser habitantes do Egipto para habitarem o Egito, devendo a meu ver chamar-se neste caso egícios.

Mas hoje escrevi "abril", sem maiúscula, só com letras minúsculas, como se de um minúsculo mês se tratasse. Faz-me confusão que os meses deixem de ter nomes próprios e direito a maiúscula inicial, mas "abril"... Escrever "abril" "soou-me" mesmo mal.

Eu bem sei que a maneira de escrever é do que menos mal vai com o nosso mês de Abril (com maiúscula que agora não é só um mês, é bem mais que isso), mas um mês tão absolutamente maiúsculo devia ter direito a inicial maiúscula, caramba!

20.7.12

Controversias

Um tio meu diz que o José Hermano Saraiva é o maior mentiroso da História (verdade nos dois sentidos em que esta frase pode ser interpretada).

Quando à hora do almoço soube que dito indivíduo tinha morrido não senti pesar nenhum, confesso.
Pergntei-me, isso sim, qual seria o facho retinto e assumido que iriam arvorar em grande historiador agora que este ministro da educação do fascismo morreu. Estando eu nestas interrogações ouvi o pivôt na televisão dizer que José Hermano Saraiva era um homem politicamente controverso.

Pelos vistos na mesma reforma vocabular em que a caridadezinha passou a chamar-se "solidariedade" os fascistas passaram a chamar-se: "pessoas políticamente controversas".

Se deixassem de nos tentar engazupar e chamassem os bois pelos nomes, isso é que era história!

13.6.12

Também no dia de St António





13 de Junho de 2005. Fui a Lisboa, ao funeral da nossa Pessoa bonita #1 (o Companheiro Vasco, claro) e soube que tinha falecido nesse dia a nossa Pessoa bonita #3 (o Álvaro Cunhal).


A 17 de Junho esta era a capa do Avante:

Porque o Avante também sabe quão bonitas são estas pessoas.

Como sempre cabe agradecer-lhes e lembrá-las continuando o seu trabalho.


Santo António

(Ana Martins, Seixal, Setembro 2008)

Os assuntos do coração

- Tenho uma tendência comprovada para tomar más decisões em assuntos do coração.

-Então?

- Não consigo deixar de comer manteiga!

11.6.12

A felicidade

Ao pegar em livros para emprestar tenho sempre a "necessidade" de ir rever as pasagem que assinalei. Hoje encontrei esta:

"Que ninguém tenha vergonha de ser feliz. Além do mais porque a felicidade do ser humano é um dos objectivos da luta dos comunistas."
in O Partido com Paredes de Vidro, Álvaro Cunhal

30.4.12

Como sabemos todos escrever

"O PS(...) não assina de cruz nenhum documento enviado para Bruxelas sem ser discutido no Parlamento.” diz António José Seguro


Mesmo que seja um atentado ao nosso povo,mesmo que nos afunde num fundíssimo lodaçal económico, desde que seja apresentado primeiro no Parlamento, cumprindo os devidos prazos, o PS fará o que tem feito até agora: assinará por baixo. Só não de cruz, afinal no grupo parlamentar do PS todos foram à escola e aprenderam a ler sem ser em centros de Novas Oportunidades...

23.4.12

"A Crise do Capitalismo: Capitalismo, Neoliberalismo, Globalização"

Na Quinta-feira passada em Coimbra havia muitos programas culturais por onde escolher para animar a noite. Eu escolhi este:

Numa iniciativa conjunta entre a Editora Página a Página, a Casa da Escrita e o Ateneu de Coimbra assisti à apresentação do novo livro de António Avelãs Nunes "A Crise do Capitalismo: Capitalismo, Neoliberalismo, Globalização".

O livro foi apresentado por Sérgio Ribeiro, economista particularmente didáctico. (Podeis ler coisas dele diariamente aqui). Foi uma iniciativa particularmente interessante, como aliás é hábito das iniciativas com participação do Ateneu. Analisou-se a situação actual (económica e social) do nosso país, discutiram-se hipóteses de cenários futuros, oulhou-se lá para fora também (como não podia deixar de ser) e acalentou-se aquela esperança (quase certeza) de que um dia mudaremos "isto", ainda que nos custe muito esforço (e sofrimento).

Mais fotografias do evento aqui.

21.3.12

Pelo sonho

Amanhã é dia de Greve Geral. Já o tinha dito no último "post". Mas pareceu-me quando o terminei que, embora estivesse correcto e claro, estava algo "seco". Por isso decidi escrever outro.

Amanhã faço Greve Geral e saio à rua. Como estou em Coimbra vou à praça 8 de Maio às 11h.


Amanhã faço Greve Geral porque tenho um local de trabalho fixo, não tendo um horário fixo cumpro um horário mais ou menos certo todos os dias. Desempenho funções diversas no âmbito de um projecto de investigação financiado pelo Estado através da FCT. Assinei um contrato de dedicação exclusiva. No entanto não tenho um vínculo juridico-laboral, desconto para a Segurança Social o Seguro Social Voluntário correspondente ao ordenado mínimo. Recebo 12 meses e já era isso que ia receber antes de o governo anunciar que roubaria os trabalhadores do subsídio de férias e de Natal. Sou bolseira de investigação científica. Tenho 27 anos e não sei bem o que vou fazer quando acabar a minha bolsa (que já não pode voltar a ser renovada), mas provavelmente esperar-me-á, na melhor das hipóteses, outra bolsa (possivelmente até no mesmo local de trabalho).

Para os leitores mais necessitados de explicações mais explícitas eu desenvolvo.

Amanhã faço greve e saio à rua pelo direito a um emprego seguro e com direitos, pelo reconhecimento do meu desempenho e da minha valia laboral e pelas funções sociais do Estado. Estas condições são fulcrais no desenvolvimento da vida pessoal dos cidadãos.
Sem elas está posto em causa o meu direito a tornar-me autónoma dos meus pais, a estabelecer-me; está em causa uma decisão tão pessoal e emocional como a de ter filhos. Está em causa o meu direito a uma maternidade consciente e feliz.

O discurso oficial é de tal modo derrotista e determinista  que ultimamente me tem parecido que o objectivo é que deixemos serquer de sonhar.
Eu decidi que tente quanto tente, ninguém me fará deixar de sonhar, ninguém me vai castrar os sonhos. Os sonhos não! Mas quanto mais olho para as pessoas à minha volta, mais me parece que até de sonho andamos parcos.

Amanhã faço Greve e saio à rua pelo meu direito a ser útil à sociedade (e não só ao grande capital) e pelo meu direito de construir uma vida e a minha felicidade. Aliás, amanhã faço Greve e saio à rua pelo nosso direito a ser úteis à sociedade e pelo nosso direito de contruir uma vida e à felicidade.
E sim. Amanhã faço Greve e saio à rua também pelo nosso direito a sonhar, a sonhar os nossos pequenos sonhos individuais e os grandes sonhos colectivos também.

Amanhã é dia de Greve Geral!

Já aqui à porta

Seja qual for a porta em que se "plante" o teu piquete, é amanhã, 22 de Março de 2012, dia de Greve Geral.

Parafraseando a CGTP, contra a exploração e o empobrecimento, todos à Greve Geral!

Contra a desregulamentação dos horários e os bancos de horas.
Contra o roubo nos salários e pensões.
Contra o despedimento sem justa-causa.
Contra as privatizações.
Contra a política de recesseção e afundamento económico.


Pelo pagamento da nossa dívida e não da dívida alheia.
Pela renegociação de montantes, juros e prazos de pagamento.
Pela defesa e promoção do aparelho produtivo nacional.
Pela criação de emprego e riqueza.
Pela estabilidade laboral e pelo trabalho com direitos.
Pela melhoria dos serviços públicos e das funções sociais do Estado.
Pelo aumento dos salários e pensões de reforma.
Pelo conprimento da Constituição da  República Portuguesa.

Por nós, nós todos enquanto povo de uma nação soberana é que eu faço Greve amanhã.

9.3.12

Pessoas bonitas #10

Como o prometido é devido voltamos a ter "Pessoas bonitas" na Eira. E elas regressam em grande!
A pessoa bonita de hoje é o Adriano Correia de Oliveira.


Este ano cumprem-se 25 anos sobre a morte do Adriano que morreu claramente cedo demais, aos 40 anos de idade (outros há que morrendo com menor idade já morreriam tarde, mas este não).

O Adriano foi um homem completo, de vida cheia e dedicada.
Soube aproveitar como poucos o que a vida estudantil coimbrã tem para oferecer bem para além da formação académica. É da secção de volei da AAC, do Orfeon académico, do Grupo Universitário de Danças Regionais, do Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra, da Tuna Académica, repúblico na Rás-Teparta, dos órgãos sociais da AAC e grevista em 1962.
Em 1960 entra para o Partido Comunista Português é activo na luta anti-fascista.


Canta, o Adriano canta. Canta tanto, canta tudo! O Adriano canta "Venho dizer-vos que não tenho medo!" no tempo em que o medo era rei. Canta a tristeza do fado de Coimbra, numa voz que não era de fado, era melhor. Canta a canção tradicional portuguesa, canta a revolução onde e quando fosse preciso.
Sobretudo o Adriano canta-nos.


Neste ofício em que era mestre fez imensas parcerias: com Manuel Alegre, José Calvário, José Niza, Rui Pato, António Portugal e tantos outros. Cantou por todo o lado, para grandes audiências e pequenos encontros; em Portugal e no estrageiro.

Adriano construiu a Revolução antes e depois dela.

Em 1979 ajuda a fundar a cooperativa artística Catarabril da qual acaba por ser afastado mais tarde juntando-se à Era Nova.

O último concerto do Adriano foi em Mondim de Basto em 1982, num encontro do PCP numa escola.
Nesse ano morre em Avintes, vítima de uma hemorragia esofágica e nós perdemos todos um excelente cantor e revolucionário.

O Adriano é uma das pessoas que tenho mais pena de não ter conhecido, mas já nasci tarde para isso. Ele fugiu-nos muito cedo. É uma pessoa extraordinariamente bonita,com uma voz que o espelha bem.

Para ouvir deixo-vos uma canção do seu último disco, "Quando eu cheguei ao Barreiro", tradicional Portuguesa, do Alentejo. Lembro-me dela muitas vezes quando penso na quantidade enorme de gente nova que conheço que migra para a capital ou para o estrangeiro, como se fazia há 50 anos, em busca de trabalho e outra vida.

É porque nós merecemos outra coisa, "coisa boa" que lutamos, mas também porque gente como o Adriano merece que o que cantava há tantos anos não seja ainda tão terrivelmente actual.

Dia 22 de Março é dia de Greve Geral!


-Quando eu Cheguei ao Barreiro-
-Canta Adriano Correia de Oliveira-



-Quando eu Cheguei ao Barreiro-


Vou-me embora p'ra Lisboa 
Porque a vida cá é má. 

À busca de, de coisa boa 
Pergunto não encontro cá. 
À busca de, de coisa boa 
Pergunto não encontro cá. 


Quando eu montei o comboio 
Que assoprava pela via. 

Às vezes penso comigo e digo 
Não sei que sorte é a minha. 
Às vezes penso comigo e digo 
Não sei que sorte é a minha. 

Quando eu cheguei ao Barreiro 
No barco que atravessa o Tejo. 

Chora por mim qu'eu choro por ti 
Já deixei o Alentejo. 
Chora por mim qu'eu choro por ti 
Já deixei o Alentejo. 


16.2.12

A Luta continua!

Porque no Terreiro do Paço éramos imensos, mas não suficientes.



Dia 22 de Março é dia de Greve Geral!

Em breve retomaremos as "Pessoas bonitas" cá na Eira. Há uma grande fila só à espera de entrar.

8.2.12

Basta! Já chega!


Sábado, no Terreiro do Paço!

Um post que já cá devia estar!

Porque não há-de pesar na minha consciência

- a falta de reconhecimento do meu trabalho e da minha competência;

- a precariedade do meu trabalho;

- a exploração do nosso povo;

- a destruição do aparelho produtivo português (ou o que resta dele);

- o desmantelamento das empresas públicas de transportes;

- o empobrecimento generalizado da população;

- o roubo nos salários e nas pensões;

- a privatização do serviço nacional de saúde;

e tantas coisas mais que estes sacanas (para não lhes chamar oura coisa) andam a fazer que nem cabem cá todas é que eu vou no Sábado vamos ao Terreiro do Paço.

Para pôr o Passos (e companhia) na linha.

Como o Samuel diz que quem cala consente cá em Coimbra dizemos que não nos calam!




E Sábado havemos de o dizer (e gritar bem alto) no Terreiro do Paço juntamente com muito Povo!

Todos à manif!

21.1.12

Que culpa tem o Pastel de nata(*)

(*) Com as devidas desculpas aos Quilapayún.

À conta das declarações do ministro da economia sobre o potencial económico internacional do pastel de nata e das lamúrias do (infelizmente) Presidente da República sobre a suficiência da sua reforma lembrei-me de um acanção muito pouco ortodoxa dos Quilapayún.

Desfrutem e atentem bem na última estrofe, que um dia isto vira, como a tortilla.