22.12.13

Céus! #14


(Ana Martins, Bom Jesus, Braga, Abril 2013)



"Pára-raios na Igreja
é para mostrar aos ateus
que o crente, por mais que o seja,
não tem confiança em Deus!"

- António Aleixo

1.11.13

Os Santos e as campas



Nunca fui particularmente adepta de oferecer flores aos mortos, sempre me pareceu um considerável desperdício. Mesmo aquela portuguesa romagem aos cemitérios no primeiro de Novembro sempre me pareceu vagamente artificial. Ou seja, sempre a achei mais para fora que para dentro.

Vamos ao cemitério, carregados de flores (os ramos que sabemos que são precisos, mais a meia dúzia de flores extra para o caso de ser preciso tratar de uma campa que não estava no plano inicial), o garrafão da água, a tesoura de podar, o trapo para limpar o vaso ou a pedra, o saquito de plástico para os lixos.
Tentamos despachar a coisa mais ou menos depressa, não que não tenhamos gostado muito das pessoas que agora são os "nossos" mortos e não que não acarinhemos as memórias bonitas que temos delas e com elas, mas há coisas de vivos para tratar e essas (com muita justiça) são mais prementes.

Pelo caminho vemos pessoas que só encontramos nesse dia do ano e nesse local (o cemitério entenda-se). Pessoas de quem não gostamos particularmente, mas que cumprimentamos como pessoas educadas que somos. Damos uns beijinhos, sentimos a cara vagamente suja de maquilhagem ou só suor (sim, mesmo em Novembro), esperamos que as pessoas não estejam a olhar para nós para limparmos a cara com a mão e lá vamos à nossa vida que, durante esse bocado desse dia, é dedicada aos mortos. Essas pessoas, que sentem por nós o mesmo que nós por elas, pensam: "Vá lá, vá lá! Não páram por cá muito mas sempre vieram dar um jeito na campa da _____(acrescentar relação de parentesco adequada)".

Então paramos ao pé da primeira das "nossas" campas e limpamos a pedra e/ou o vaso, tiramos os restos de flores mortas, o pó, a água choca e as lesmas. Tiramos também o lixo que se vai acumulando, algum resto de vela de um familiar mais crente que nós (e que os "nosso" morto). Cortamos os pés das flores do ramo à medida certa (se correr bem) pomos no vaso, deitamos água para elas se aguentarem melhor (não que alguém as vá ver se não no próprio dia, mas enfim) e seguimos para a campa seguinte, das "nossas".
Depois das "nossas" campas confirmamos se as que são só meias "nossas" estão arranjadas; fazemos o jeito de tratar da campa de um morto meio-"nosso" se o primo que lhe correspondia não pôde vir e assim as pessoas do parágrafo acima podem pensar dele o mesmo que de nós.

No fim de tudo isto metêmo-nos no carro de volta (mais leves em flores e água) e vamos à parte que realmente interessa do dia. Passar a tarde com os vivos. Aqueles de quem moramos mais longe do que gostaríamos e que vemos muito menos do que deveríamos.

Eu não gosto do nosso ritual externo do culto dos mortos, mas sei que é a forma de todos os anos, pelo menos uma vez, lancharmos juntos os vivos (senão todos, mais uns quantos do que é costume) e lembrarmo-nos dos que já não se sentam à mesa mas fazem parte da nossa história, de quem fomos e somos. É no dia de Todos os Santos que mais provável é eu ter um sorriso igualzinho ao do tio Não-sei-das-quantas "já não o conheceste, mas és mesmo parecida" ou ouvir contar "daquela vez que fomos todos ao Sto António da Neve, ainda o João não era nascido".

Verdade, verdadinha é quando é mais provável que os nossos idos mais queridos venham sentar-se connosco à mesa.

Por isso é que é tão vil roubar-nos o feriado no Dia de Todos os Santos, porque é quererem roubar-nos do convívio dos vivos e a memória dos mortos.

Mas deve fazer parte, afinal roubando-nos a memória é mais fácil roubarem-nos o salário e fazerem-nos trabalhar de graça. É o que estamos a fazer hoje: trabalhar de graça.

11.9.13

11 de Setembro

Ou "há 40 anos no Chile".

Há 40 anos no Chile ocorria o culminar da acção da CIA para acabar com a "ameaça marxista nas Américas".

Tentaram de tudo:greves de tranportes subornadas em dólares americanos; jornais comprados na mesma moeda; açambarcamento de bens de primeira necessidade; ricas donas de casa a pegarem em testos pela primeira vez para os virem bater para a rua; assassinato do comandante em chefe das forças armadas por ser fiel à constituição e ao Povo. Enfim tudo.

Mas nada parecia quebrar a força de um Povo que tinha decidido que tinha direito a sê-lo; que tinha decidido construir e fazer crescer o país, tomando conta da sua produção agrícola e industrial e fazendo cultura. Um Povo que tinha decidido ser Futuro e era exemplo (e que perigoso que é o exemplo!).


Por isso e porque Kissinger não percebia porque precisava de ficar parado a ver um país tornar-se comunista devido à irresponsabilidade do seu próprio povo ("I don't see why we need to stand by and watch a country go communist due to the irresponsibility of its own people.") foi preciso acabar com aquele país que se levantava e com aquele Povo que se orgulhava de o ser.

Então fez-se um golpe militar, bombardeou-se La Moneda, assassinou-se o presidente e quantos o defendessem. Prenderam-se e torturaram-se dezenas de milhar nos dias seguintes, tranformou-se o estádio nacional em centro de detenção e tortura.

O dia 11 de Setembro de 1973 é um dia negro na História, perderam-se milhares de homens e mulheres dos melhores que o Chile tinha para oferecer ao Mundo. Salvador Allende desde logo, mas também Victor Jara e Pablo Neruda e tantos que nem chegámos a saber quem eram, já nos tinham sido roubados.

A procura do lucro sempre crescente faz isto: rouba-nos do que de mais bonito podíamos ter, ver ou fazer.
Foi isto o 11 de Setembro no Chile, a retaliação do capital contra um Povo que não queria ver-se despojado das suas riquezas por empresas multinacionais de capital estrangeiro; contra um Povo que tinha decidido que a terra era sua, o cobre também e, sobretudo, a decisão e a vida eram suas.


Por este crime hediondo ainda ninguém pagou embora os culpados sejam sobejamente conhecidos.
Não nos peçam que esqueçamos!

14.7.13

A Optimus e a publicidade

Aqui há dias fiquei piursa quando vi na televisão o anúncio novo da Optimus (empresa do grupo SONAE).


O anúncio faz uma cronologia de acontecimentos importantes na História portuguesa e, curiosamente, em 1974(min 0:50 no vídeo) dá-se o regresso da Guerra Colonial, mas não se vê que tenha havido nenhuma revolução pelo meio.

Eu achei francamente brilhante! E mais alguém deve ter achado, porque o anúncio que aparece agora na televisão já está corrigido.
Não deixa de dar que pensar, que se tenham atrevido a pôr as garras tão de fora...

5.7.13

A privatização da RTP

No Telejornal de hoje havia uma peça que nos mostrava quão semelhantes são o Verão de 2013 e o Verão quente de 1975 (http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=664553&tm=9&layout=122&visual=61)

Eu lembro-me, assim de repente, de uma diferença considerável: em '75 não estava prevista a privatização da RTP. Eu não concordo com a privatização da RTP mas o que me ocorre depois de ver esta peça jornalística é que uma grande purga faz lá muita falta!

Alguém que compara o Companheiro Vasco Gonçalves com o sujeitonho que é agora Primeiro Ministro só merece que lhe cuspam na cara!

15.6.13

Os professores

Eu fui à escola no tempo em que ela já era boa e ainda só começava a ser violentada.
Eu tive aulas com professores que gostavam de dar aulas e tinham tempo. Nem todos foram bons, mas tive uns quantos muito bons professores.
Por exemplo a minha professora de História do 5º ano fez-me gostar muito de História. A de Inglês do quinto ano também fez-me saber uma das línguas que me são mais úteis hoje em dia e a do 11º fez-me descobrir a literatura anglófona.
O meu professor de matemática do 7º ano fez-me sentir-me mal por ter preguiça de fazer os trabalhos de casa, mesmo quando eram muitos e estava a dar um programa mesmo fixe na televisão.
A minha professora de Português do 12º ano discutia Saramago comigo embora não fizesse parte do programa (só não conseguiu fazer-me gostar de Vergílio Ferreira, mas sisso era uma missão impossível)
A minha professora de Biologia mostrou-me o fascinante mundo das plantas e hoje sou bióloga.

Como à maioria das pessoas da minha geração, os professores foram enchendo a minha vida.
Hoje, ao encherem a Avenida da Liberdade em defesa da Escola Pública, encheram-me as medidas!

14.6.13

A pátria inteirinha na mão dos professores

No contexto da greve dos professores no dia do primeiro exame nacional deste ano várias personalidades têm vindo dizer que o futuro dos alunos, os seus sonhos e aspirações estão a ser postos em causa pelos professores grevistas, aliás pela teimosia do sindicato (a questão semântica interessa).

Parece-me isto muito curioso. Pelos vistos, se os sindicatos não tivessem convocado a greve, se os professores não aderissem a ela e os alunos pudessem fazer o exame nacional o cenário económico-social pátrio seria algo bem diferente:

A taxa de desemprego desceria para níveis nunca imaginados (nem pelas mais optimistas mentes durante o PREC).
Abririamos fábricas em barda, todas cheias de trabalhadores de justos salários e longe, muito longe da falência. Nas notícias apareceriam trabalhadores a abraçar os patrões em vez de exigirem o pagamento de salários em atraso, já de carta de despedimento na mão.
As "pastagens permanentes" do Alentejo seriam semeadas e as terras clamariam por mãos e braços e conhecimento e tecnologia.
O investimento em ciência e tecnologia aumentaria exponencialmente e descobririamos a cura para a SIDA e resolveriamos o problema do aquecimento global.
As crianças iam todas à escola de barrigas aconchegadas e corpos agasalhados.

Verdade verdadinha, se os sindicatos não tivessem convocado a greve, se os professores não aderissem a ela e os alunos pudessem fazer o exame nacional a retoma da economia era coisa certa e seriamos todos completa e genuinamente felizes!




23.4.13

É simples

Para mim é simples:

- Quem usa dinheiro dos contribuintes para especulação bolsista deve ser julgado e condenado.

Tanto dá se se ganha ou se se perde dinheiro com a brincadeira.
E depois ainda há quem tenha a lata de dizer que as empresas públicas não rende por causa de salários e direitos dos trabalhadores, ou por causa das greves. Deve ser, deve!