9.3.12

Pessoas bonitas #10

Como o prometido é devido voltamos a ter "Pessoas bonitas" na Eira. E elas regressam em grande!
A pessoa bonita de hoje é o Adriano Correia de Oliveira.


Este ano cumprem-se 25 anos sobre a morte do Adriano que morreu claramente cedo demais, aos 40 anos de idade (outros há que morrendo com menor idade já morreriam tarde, mas este não).

O Adriano foi um homem completo, de vida cheia e dedicada.
Soube aproveitar como poucos o que a vida estudantil coimbrã tem para oferecer bem para além da formação académica. É da secção de volei da AAC, do Orfeon académico, do Grupo Universitário de Danças Regionais, do Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra, da Tuna Académica, repúblico na Rás-Teparta, dos órgãos sociais da AAC e grevista em 1962.
Em 1960 entra para o Partido Comunista Português é activo na luta anti-fascista.


Canta, o Adriano canta. Canta tanto, canta tudo! O Adriano canta "Venho dizer-vos que não tenho medo!" no tempo em que o medo era rei. Canta a tristeza do fado de Coimbra, numa voz que não era de fado, era melhor. Canta a canção tradicional portuguesa, canta a revolução onde e quando fosse preciso.
Sobretudo o Adriano canta-nos.


Neste ofício em que era mestre fez imensas parcerias: com Manuel Alegre, José Calvário, José Niza, Rui Pato, António Portugal e tantos outros. Cantou por todo o lado, para grandes audiências e pequenos encontros; em Portugal e no estrageiro.

Adriano construiu a Revolução antes e depois dela.

Em 1979 ajuda a fundar a cooperativa artística Catarabril da qual acaba por ser afastado mais tarde juntando-se à Era Nova.

O último concerto do Adriano foi em Mondim de Basto em 1982, num encontro do PCP numa escola.
Nesse ano morre em Avintes, vítima de uma hemorragia esofágica e nós perdemos todos um excelente cantor e revolucionário.

O Adriano é uma das pessoas que tenho mais pena de não ter conhecido, mas já nasci tarde para isso. Ele fugiu-nos muito cedo. É uma pessoa extraordinariamente bonita,com uma voz que o espelha bem.

Para ouvir deixo-vos uma canção do seu último disco, "Quando eu cheguei ao Barreiro", tradicional Portuguesa, do Alentejo. Lembro-me dela muitas vezes quando penso na quantidade enorme de gente nova que conheço que migra para a capital ou para o estrangeiro, como se fazia há 50 anos, em busca de trabalho e outra vida.

É porque nós merecemos outra coisa, "coisa boa" que lutamos, mas também porque gente como o Adriano merece que o que cantava há tantos anos não seja ainda tão terrivelmente actual.

Dia 22 de Março é dia de Greve Geral!


-Quando eu Cheguei ao Barreiro-
-Canta Adriano Correia de Oliveira-



-Quando eu Cheguei ao Barreiro-


Vou-me embora p'ra Lisboa 
Porque a vida cá é má. 

À busca de, de coisa boa 
Pergunto não encontro cá. 
À busca de, de coisa boa 
Pergunto não encontro cá. 


Quando eu montei o comboio 
Que assoprava pela via. 

Às vezes penso comigo e digo 
Não sei que sorte é a minha. 
Às vezes penso comigo e digo 
Não sei que sorte é a minha. 

Quando eu cheguei ao Barreiro 
No barco que atravessa o Tejo. 

Chora por mim qu'eu choro por ti 
Já deixei o Alentejo. 
Chora por mim qu'eu choro por ti 
Já deixei o Alentejo. 


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