15.3.10

Da simpatia das mesas

E em jeito de resposta ao comentário do cetautomatix aqui.
Sobre a simpatia do móvel, tenho que admitir que gosto bastante de mesas.
Gosto de mesas redondas, rectangulares (incluindo as quadrangulares) e irregulares até, com curvas e formas fluídas que se vêem em exposições de que percebo pouco ou nada, mas a que acho piada ainda assim.

Gosto das mesas baixinhas de café (tão prácticas para descansar os pés), das altas tipo balcão, das de jantar, das imponentes e grandalhonas que albergam muitos comensais.

Gosto das mesas apoiadas em cavaletes, mais ou menos periclitantes, que se costumam montar em exteriores com grandes toalhas que tapem as suas pernas magras e feias, mas que os miúdos pequenos acabam sempre por descobrir (e às vezes derrubar).

Gosto das mesas de pernas entalhadas das salas de jantar "da avó", para grandes reuniões familiares e que resistem estoicamente aos muitos anos de uso e aos poucos anos de idade daqueles que se lhes penduram, esticando o braço, para chegar à filhós que está lá tão longe no meio da mesa.

Gosto das mesas pequenas ao lado dos sofás, com um candeeiro para ajuda à leitura em horas de pouca luz, ou apenas sendo sítio para poisar o copo ou a chávena.

Gosto das mesas ajustáveis, a que se acrescentam tábuas quando afinal vem mais alguém para comer (tábuas dessas que se guardam no roupeiro do filho mais novo).

Gosto de mesas de pique-nique quando não chove, mesmo que a mesa seja só uma toalha no chão e o assento a erva fresquinha que nos pica as pernas.

Gosto de mesas de esplanada nas tardes de sol, para o café depois do almoço (com o copo de água da praxe) ou para o fino e o pires de tremoços da noitinha.

Gosto da mesa do bar da praia com o cheiro da maresia a misturar-se com o cheiro da molhanga dos caracóis acabados de chegar.

Gosto da mesa do café fumarento em dia de jogo de futebol, mesmo que fique com o cabelo a cheirar impossivelmente a tabaco.

Gosto das mesas de bilhar ainda que jogue mesmo muito mal.

Gosto das mesas coxas das cantinas da UC e das companhias que aí tive para comer e estudar (e do pudim molotov dos grelhados).

Gosto das mesas de cantoria qualquer que seja a forma que elas tenham. Mas admito que guardo um carinho especial para as mesas de jantar (as mesmas que do almoço, mas diferentes ainda assim) do restaurante de apoio da Festa do Avante onde era tão difícil jantar por "ter" que cantar.

Gosto das mesas de cimento do Jardim da Sereia onde os velhotes vão jogar às cartas e às damas, gosto das antigas mesas fixas dos jardins da AAC da minha adolescência.

Gosto das mesas da sala de estudo da AAC (as antigas, sem separações antisociais) e do ambiente de estudiosa solidariedade que me impedia de me distrair.

Gosto do estirador da sala que sempre teve espaço para os livros, os apontamentos das aulas, as cópias dos powerpoints e as folhas onde fazia as compilações de tudo isso. Gosto dessa sua versatilidade que faz com que seja também tão boa mesa de corte.

Gosto das mesas de trabalho e discussão quando a concórdia e a discórdia só dependem de visões diferentes e não de egoísmos nem interesses pessoais. Por isso gosto das mesas das salas de reuniões da Rua da Sofia.

Gosto da mesa do GEFAC com os pés a sairem continuamente.

Gosto das mesas onde fico à conversa depois de jantar (excepto essa que os meus pais tiveram que insistia em espetar-se-me nos joelhos).

Gosto da mesa aqui de casa que é de estudo, de trabalho, de costura, de trabalhos manuais e que, ao fim de semana se vinga das refeições solitárias com as reuniões de amigos para o almoço.

Gosto de mesinhas de cabeceira que mais que um despertador tenham um livro que seja tentação suficiente para resistir ao sono e ao cansaço, só para ler mais umas páginas cada noite.

Acima de tudo, gosto de mesas de convívio (com amigos antigos e recentes, novinhos em folha), de brincadeiras, risos, histórias e canções. E gosto mesmo muito de nunca ter ficado com fome à mesa.

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