21.4.10

A Justiça demora mas chega


O último ditador argentino, o general Reynaldo Bignone (82 anos), foi condenado a 25 anos de prisão por violação dos direitos humanos.
Este é um gostinho que já ninguém tira aos argentinos. Ao contrário do que acontece no Chile, os responsáveis estão a sentar-se no banco dos réus e não morrerão impunes.

Este senhor foi, além de Presidente entre 1982 e 1983, vice-chefe da base militar Campo de Mayo, o maior centro de tortura da Argentina, entre 1978 e 1979.Foi nessa altura que teve responsabilidade directa em 56 homicídios e no rapto de 500 bebés, cujas mães foram obrigadas a dar à luz em centros de detenção clandestinos.
Claro que quem diz centros de detenção diz de tortura, violação, assassinato e qualquer das combinações possiveis. E clandestinos, para ninguém saber do que lá se fazia ou a quem se fazia ou onde estavam aqueles a quem se fazia e desfazia (sobretudo desfazia). Para aumentar o drama dos desaparecidos, o sofrimento e o desespero das famílias. Na América Latina fez escola essa forma de tortura colectiva de todo o povo de um país.

Estima-se que no Campo de Mayo terá havido 30 mil mortos e desaparecidos.

Bignone diz que não, que só se provaram 8 mil desaparecidos e 30 crianças raptadas. Eu acredito mais na estimativa que em Bignone, mas mesmo que tenha razão, merece menos ser preso, merece menos o meu ódio e o meu asco por 8 mil desaparecidos que por 30 mil? Por 30 crianças de raptadas que por 500? Acho que não.

Demonstrando-se ainda mais revoltante, este ser ignóbil chega a dizer, como isto o desculpasse de alguma forma, que as vítimas “não eram nem tão jovens nem tão idealistas”. Será possível ser-se mais baixo?

Mas na história e nas declarações deste senhor há paralelos curiosos e tão feios que são quase obscenos. Bignone "justifica-se" dizendo que as Forças Armadas argentinas "tiveram que intervir para derrotar o terrorismo". É só a mim que isto soa familiar?

Também me soam familiares e recentes histórias de centros de detenção cladestinos e são especialidade dos mesmos que aplicam o discurso do terrorismo. Curiosamente também são os mesmos que treinaram as forças especiais de todas as ditaduras da América Latina.

Sim, O Estados Unidos da América, com mais ou menos melanina.

2 comentários:

  1. Um gostinho especial?
    Isso mesmo, não por revanchismo mas pelo cheiro a futuro.

    Um beijo

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  2. Um sorriso fraterno para as Mães e Avós da Praça de Maio.

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