12.3.11

Da indignação ao protesto, do protesto à luta organizada

O protesto marcado através Facebook para 12 de Março gera-me sentimentos contraditórios.
Se por um lado entendo que é justa a indignação de tantos desempregados e trabalhadores precários e mal pagos com a situação actual, acho também que o conteúdo do "manifesto" que apresentam os "organizadores" é, no mínimo absurdo.
Numa enumeração de afectados que compõem a "geração à rasca" deixam de fora uma boa parte da massa de trabalhadores do nosso país, também com enormes motivos para protestar. Só o facto de lhe chamarem "geração à rasca" pressupõe uma separação, à partida, desta geração "jovem" das restantes gerações, em muitos (cada vez mais) casos em situação precária também.

Ao olhar para este dois parágrafos do "Manifesto"

"Nós, que até agora compactuámos com esta condição, estamos aqui, hoje, para dar o nosso contributo no sentido de desencadear uma mudança qualitativa do país. Estamos aqui, hoje, porque não podemos continuar a aceitar a situação precária para a qual fomos arrastados. Estamos aqui, hoje, porque nos esforçamos diariamente para merecer um futuro digno, com estabilidade e segurança em todas as áreas da nossa vida.

Protestamos para que todos os responsáveis pela nossa actual situação de incerteza - políticos, empregadores e nós mesmos – actuem em conjunto para uma alteração rápida desta realidade, que se tornou insustentável.
"

a primeira coisa que penso é um valente "fala por ti que eu cá não compactuei com nada, bem pelo contrário". Mas ultrapassando esse desagrado a possibilidade de que empregadores e trabalhadores "actuem em conjunto" é uma coisa perfeitamente sem cabimento. Nem sequer chega a ser uma utopia porque estamos a falar de duas classes sociais antagónicas com interesses irreconciliáveis!
Pôr a hipótese de que a Sonae ou o grupo Jerónimo Martins actuem em conjunto com os trabalhadores para acabar com a precariedade e os baixos salários é digo de um programa de comédia!

Diz-se sistematicamente que foi o Facebook que possibilitou/provocou toda esta publicidade, esta adesão das pessoas à iniciativa marcada para dia 12 de Março, que as redes sociais na internet são um acoisa incrível e que através delas até se podem convocar manifestações. Não tenhamos ilusões, se a adesão das pessoas vem da sua justa indignação e do seu natural desespero com a sua falta de perspectivas; a publicidade maior, que deu a este protesto dimensão verdadeiramente nacional e o fez sair dos zeros e uns a que estava limitado foi a intervenção da televisão e dos jornais.
Há bem mais de uma semana que não há telejornal que não tenha uma peça sobre o fenómeno da geração à rasca. Começa com os Deolinda, atirando para a ribalta a pior canção do grupo e continua neste movimento pseudo-espontâneo iniciado pela internet.

Eu não acredito na espontaneidade das movimentações sociais. Não acredito que sejam espontâneas e não creio que uma manifestação convocada por um pequeno grupo de pessoas, não organizadas para manterem o protesto para além de uma iniciativa tenha consequências reais. Não acredito que um protesto sem caderno reivindicativo leve a conquistas sociais.

Claramente não sou a única, porque todos sabemos que não é aos precários que serve o Público que tanto tem acarinhado este protesto. Os grandes senhores da nossa economia acreditam tanto nessa espontaneidade como eu, por isso lhe querem dar tanta visibilidade agora.
Mais! Os nossos governantes acreditam tanto na consequência deste protesto que ainda hoje anunciaram mais um PEC (de tão preocupados que estão).

Eu acredito que os trabalhadores precários merecem um vínculo laboral estável, um salário digno e um horário que lhes permita ter vida familiar. 
Eu acredito que é protestando, na rua que se conseguem conquistas sociais.
Eu acredito que é organizados que venceremos.

Sobretudo, eu acredito que na sua grande maioria as pessoas que irão amanhã engrossar o protesto dos "quinhenteuristas" são pessoas bem intencionadas, com diminutas perspectivas de vida e uma grande e muito justa indignação que lhes custa direccionar. Custa direccionar porque passam o tempo a ouvir dizer que "os partidos isto" (como se fossem todos iguais) e "os sindicatos aquilo" (mais um avez, como se fossem todos iguais), que são coisas que dão tanto jeito ao Capital, que sabe que somos muitos e que organizados somos fortes (mais do que o Capital).

É por achar que quem irá , irá a clamar por justiça que eu vou também, mas é por saber que dia 12 não basta que também estarei dia 19 na manifestação convocada pela CGPT e estarei em todas as outras!
Porque se não compactuei, não é agora que vou começar e desafio todos os que forem dia 12 a fazerem como eu e organizarem-se.

A Luta Continua!

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