16.10.12

Quem és tu assim tão simples?

Hoje, como é habitual, acordei com a Antena 1 e ouvi uma reportagem sobre o pão caseiro no distrito de Bragança (ouvir aqui). São dois minutos de reportagem que acabam magistralmente:

"Antigos fornos de pão agora com mais actividade Numa fornada de pão as famílias economizam muito dinheiro e têm a garantia de um pão de excelente qualidade."

Esta reportagem lembrou-me um texto do meu livro de Língua Portuguesa da 4ª classe chamado "A cidade e a aldeia". É a exaltação da ruralidade empobrecida, "A alma de Portugal" que vive num casebre desprovido de electricidade. Eu gosto muito de pão caseiro, mas foi isto que a reportagem de hoje me lembrou.


"A Cidade e a Aldeia"
(Abílio Mesquita)

Cidade - Quem és tu, assim tão simples?
Aldeia - E tu, quem és a final?
Cidade - A nobreza da Cidade.
Aldeia - Aldeia de Portugal.
Cidade- Tenho lindas pedrarias,
              Jóias mil de muitas cores...
Aldeia - E eu tenho maior riqueza
              Nas minhas tão lindas flores...
Cidade - Tenho risos, alegrias
              Divertimentos constantes
Aldeia - Tenho a música dos ninhos
              E canções inebriantes.
Cidade - Tenho luz de noite a jorros,
              E não me levas a palma.
Aldeia - Tenho o Sol durante o dia,
              De noite a luz da minha alma...
Cidade - Vivo em palácios vistosos
              Que abundam pela Cidade.
Aldeia - E eu num casebre pequen0,
              Que o Sol beija com vaidade!
Cidade- A História fala de mim,
              Porque tenho algum valor...
Aldeia - Também tenho a minha História,
              Escrita com o meu suor
Cidade - Tenho o luxo que tu vês
              Próprio da minha grandeza.
Aldeia - E eu o luxo e a vaidade de gostar da singeleza!
Cidade - Sou mais rica do que tu,
              Que nada tens afinal!
Aldeia - Tenho aqui dentro do peito:

              "A ALMA DE PORTUGAL"!!!


Eu nasci depois de uma década de liberdade e estudei (felizmente) na escola pública de Abril. No entanto, o meu livro conservava algumas heranças do obscurantismo fascista, provando que há amarras bem difíceis de cortar...

10 comentários:

  1. O livro da 3ª classe, comprei-o há dias, editado de novo... mas esse da 4ª classe ainda o tenho aí é o original com bem mais mais de cinquenta anos (já tinha sido do meu irmão). Está velho, o estupor do livro... mas continua fascista! :-) :-) :-)

    Abreijos.

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    1. Pois, pois, mas o meu era de 1993...

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    2. Lembro-me perfeitamente desse texto.Ainda este Domingo passado o recitei em família com os netos. Sou de
      1938.Teminei a Primária em 1948. Recordar é viver.

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    3. Pois este poema a cidade e a aldeia foi recitado por mim e uma colega numa festa de final de ano tinha eu uns 13 anos agora o meu neto também o foi recitar mas queria saber a biografia do autor Abilio Mesquita mas não consigo encontrar na net

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    4. Na época os livros da primária da 1ª classe até à 3ª eram todos iguais mas,o mesmo não acontecia com o da 4ª classe,o meu era o que tinha este poema a que achei "na altura com 10 anos" muita piada, isto em 1958. Entretanto já comprei de novo os 3 primeiros, mas não me recordo da capa do meu livro da 4ª. Se alguém o tiver pode dizer-me qual era a capa. Obrigada

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    5. Acho que era o abc do sabichão

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  2. Alguém me sabe dizer alguma coisa sobre o autor deste poema A cidade e a aldeia?
    Sei que era Abilio Mesquita mas precisava de mais informação para um trabalho escolar obrigada

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  3. O meu comentário resume-se à palavra "saudade" da minha infância, daquelas quatro paredes onde conheci este e outros tesouros, também, aquela querida senhora que foi a minha professora, Dª Celeste Marinha. E tudo GRITA!!!!

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  4. Boa noite ! Se eu não estou enganada
    E Afonso Lopes Vieira

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  5. Esse poema é me recitado todos os dias pelo meu avô, de 87 anos. É das poucas coisas de que se recorda, e cada vez que me vê, recita os primeiros quatro versos do poema. Nunca me vou esquecer deste poema.

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