1.8.09

A mesma saramaguice

Saramago escreveu:
"As memórias pessoais que se recusou a escrever talvez nos ajudassem a compreender melhor os fundamentos da raquítica árvore a cuja sombra se recolhem hoje os portugueses a ingerir os palavrosos farnéis com que julgam alimentar o espírito."

Claro que as memórias de Álvaro Cunhal seriam um documento interessantíssimo, mas se ele fosse um homem que escrevesse memórias, seguramente não seria o homem que faz com que fossem tão interessantes. Além do mais, deixou-nos um legado grande e rico de análises políticas, históricas e de conjuntura e, sinceramente, ao José Saramago faz falta ler alguns desses textos, muita falta.

Mas a esta frase muito mais provocatória que inocente (deixei de acreditar que as pessoas inteligentes metem a pata na poça inocentemente há muito tempo), quero deixar uma resposta emprestada muito anterior, de um grande mestre:



Cada vez seremos mais

Pela espora da opressão
pela carne maltratada
mantendo no coração
a esperança conquistada.

Por tanta sede de pão
que a água ficou vidrada
nos nossos olhos que estão
virados à madrugada.

Por sermos nós o Partido
Comunista e Português
por isso é que faz sentido
sermos mais de cada vez
Por estarmos sempre onde está
o povo trabalhador
pela diferença que há
entre o ódio e o amor.

Pela certeza que dá
o ferro que malha a dor
pelo aço da palavra
fúria fogo força flor
por este arado que lavra
um campo muito maior.

Por sermos nós a cantar
e a lutar em português
é que podemos gritar:
Somos mais de cada vez.

Por nós trazemos a boca
colada aos lábios do trigo
e por nunca acharmos pouca
a grande palavra amigo
é que a coragem nos toca
mesmo no auge do perigo
até que a voz fique rouca
e destrua o inimigo.

Por sermos nós a diferença
que torna os homens iguais
é que não há quem nos vença
cada vez seremos mais.

Por sermos nós a entrega
a mão que aperta outra mão
a ternura que nos chega
para parir um irmão.

Por sermos nós quem renega
o horror da solidão
por sermos nós quem se apega
ao suor do nosso chão
por sermos nós quem não cega
e vê mais clara a razão
é que somos o Partido
Comunista e Português
aonde só faz sentido
sermos mais de cada vez.

Quantos somos? Como somos?
novos e velhos: iguais.

Sendo o que nós sempre fomos
seremos cada vez mais!

Ary dos Santos

Nenhum comentário:

Postar um comentário