24.4.09

EUA e a estratégia para Cuba

Hoje fui ao meu café do costume em San Cristóbal. É o meu preferido porque os que lá trabalham têm sempre um sorriso e um atendimento simpático (é um dos motivos pelos quais acho que não podem ser tão mal pagos como a maioria), têm bom café, bons sumos e algo que me faz sentir mais em casa. Têm o jornal, um jornal nacional de pseudo-esquerda, que, bem vistas as coisas já não é mau no panorama da comunicação social mexicana. Embora em Portugal qualquer café que se preze tenha pelo menos um jornal local à disposição do cliente (tipicamente com o nome do café escrito no topo da primeira página a esferográfica bic cristal ou alguma de oferta de campanha eleitoral, PS ou PPD-PSD geralmente), isso não é prática comum no México, ou pelo menos em Chiapas.

O jornal que compram neste café é La Jornada. Publica artigos dos mais diversos assuntos e os artigos de opinião, uns mais responsáveis, reflectidos e mais justos que outros, são tipicamente de tendência de esquerda. Não posso dizer que seja o meu jornal preferido e posso mesmo dizer que é perfeitamente vendido em diversos temas e tendencioso de forma muito pouco revolucionária a maioria das vezes. Mas é, ainda assim, dos menos maus e através dele fiquei a conhecer as declarações do novo potencial embaixador dos EUA no México sobre Cuba.

O ilustre senhor, Carlos Pascual de seu nome, dizia que Brasil, México, Espanha, Canadá e União Europeia são países com os quais os EUA mantêm diálogo e que esse diálogo sobre os direitos humanos em Cuba tinha que continuar “Se podemos definir o princípio de que temos o mesmo objectivo de dar poder aos cubanos para mudar a política do seu país temos uma melhor oportunidade”.

Diz isto o nomeado para embaixador do país que ficou de fora do conselho para os direitos humanos da ONU, preterido por esse mesmo país onde segundo o EUA não se respeitam os direitos humanos.

Igualmente diz, ao bom estilo estadunidense, falando da estratégia a adoptar em relação a Cuba: “Essa estratégia tem que ser baseada em dar apoio e recursos aos cubanos dentro da ilha e em que a mudança tem que vir de dentro”. Apoio, recursos, eu entendo logística, dólares, não sei bem porquê mas lembra-me a estratégia que usaram contra o governo da Unidade Popular,democraticamente eleito no Chile.

Mas não se poderia esperar muito mais do escolhido pelo mesmo governo que antes da conferencia das américas tem a medida populista e de fachada de “aliviar” o bloqueio contra Cuba em vez de o levantar como compete a qualquer verdadeiro defensor dos direitos humanos. Mas levantar o bloqueio seria demais para alguém que não procura uma mudança mais profunda do que uma simples operação plástica, seria vontade política a mais para o senhor Obama assim como para qualquer dos seus nomeados.

A única coisa que eu não percebo é como é que ainda anda tanta gente enganada com este senhor. Afinal, assim como o hábito não faz o monje, a melanina não é fonte de bondade nem de sentido justiça.

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