Está a acabar a época seca e aparecem os primeiros chuviscos que mais que produtivos são incómodos. Não serve ainda, ainda hão-de vir dias em que não chove. Ainda não se pode semear o milho, senão ele vai germinar e secar e terá que se semear outra vez em Maio.
Mas saindo um pouco de San Cristóbal rumo às comunidades agrícolas e madeireiras dos Altos, já por toda a parte se vê a terra a ser preparada, desde o fumo que se eleva das chamas baixas das queimadas até às terras já sulcadas pelo arado, prontas para receber o milho. Daqui a um mês deixar-se-á cair o precioso cereal em grupos de três ou quatro grãos em cada buraquinho que dista um metro do anterior e outro metro do seguinte. Assim, certinha e a eito, a primeira sementeira do ano.
Assim se começa a “milpa”. Roça-se o que ficou da colheita anterior ou cortam-se os troncos finos dos arbustos se a terra esteve em pousio e deita-se-lhe fogo, “roza-tumba-quema”, e depois o arado, motorizado se há sorte e descendo em grau de indústria até à enchada se a sorte só bateu a outras portas. Depois a sementeira, de milho branco, branquinho é que se quer, ou desse arroxeado que vi cá pela primeira vez. Amarelo não, esse, aprendi eu cá também, é para ração, para os animais. Como haveriam eles de fazer broa se desprezam assim essa delícia? Mas é preciso ter em atenção que o México é centro de origem do milho, que tem inúmeras variedades diferentes desta gramínea (Poaceae para os mais exigentes) e uma cultura milenar do seu uso na alimentação. Eles hão-de saber melhor que nós que só há uns séculos é que o começámos a usar. Mas eu cá tenho saudades da broa de milho amarelo, tenho tenho, quentinha e com manteiga.
Mais tarde hão-de deitar à terra o feijão, junto do milho, para que se agarre à sua cana forte e alta, sem precisar de mais suporte, mas ainda estamos em Abril, ainda as chuvas não são certas e nem o milho está ainda na terra.
Os bosques ainda estão meios acastanhados, excepto os de pinheiro claro, mas quase todos ficam assim, acastanhados, baços, contrastando com as margens dos ribeiros, essas sempre vestidas de verdes vivos e tenros. Quando olhamos as montanhas elas estão escuras, cheias de copas de árvores sedentas, quase quase no limite da sua resistência à seca, mas aguentando-se ainda, à espera do tempo em que a chuvinha é diária, o fotoperíodo é grande e se pode crescer e crescer à vontade! Em vez de sobreviver e largar folhas para não perder água. Algumas aproveitam já estas chuvas iniciais e incertas para pintar de um verde menos apagado as suas folhas e dos Quercus saem rebentos tenros e vermelhos, macios e aveludados, com aspecto de adorno natalício em plena Primavera.
Abril nos Altos de Chiapas é para ser disfrutado. São os dias mais quentes do ano e também os últimos em que pode ser que não chova toda a tarde até chegar Novembro e nessa altura, mesmo que saia o Sol, vai estar um frio de rachar. Aqui Abril é o último mês do ano em que não se sente congelar os dedos quando se pega na bicicleta pela manhã e em que ainda se pode esquecer o impermeável em casa e não voltar a ela encharcado ao fim da tarde. Também é o último mês do ano em que se pode fazer trabalho de campo durante a tarde sem passar o tempo a olhar o céu de soslaio, com medo que nos caia em cima de repente e deite a perder os apontamentos que tirámos a manhã toda.
Sim, Abril é um mês porreiro aqui, mas devo admitir que, apesar de ser algo incómoda, a época de chuvas também tem o seu encanto, mas eu depois conto, quando ela chegar eu conto.
22.4.09
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