13.6.09

Mais uma vez há quatro anos

Há quatro anos levantei-me por aí das 8h da manhã e liguei o rádio para ir ouvindo as notícias (provavelmente da Antena 1) enquanto pegavas nas coisas para ir tomar banho. Às 10h teria exame de Biologia Celular e Molecular e estava a pensar na coordenação horária do meu dia. O exame estava previsto para duas horas, mas era latamente provável que o terminasse em hora e meia o que me daria tempo de comprar o bilhete do comboio do meio dia e pico para Lisboa e chegar à estação, para ir ao funeral do Vasco Gonçalves. Na rádio a notícia ia a meio: "...desaparecimento de um personagem histórico da política nacional..." pensei "É por causa do funeral do Vasco Gonçalves", mas a notícia continuou: "...faleceu o Dr. Álvaro Cunhal...".
Olhei para o rádio, como se o pequeno objecto irregularmente paralelipipédico tivesse alguma informação visual para me dar e pensei "Os dois, foram-se os dois... As duas pessoas que mais admiro politicamente em Portugal foram embora e quase ao mesmo tempo!" e depois pensei "Já tinham esse direito há muito tempo". Admito, também tive um pensamento um pouco mais humorístico no meio disto tudo (nisso os portugueses somos mestres), pensei "Combinaram!".

Enfim... Lá tomei banho, fiz o exame numa hora e pouco, correu bem (mais tarde soube que tive boa nota), comprei o bilhete de comboio no multibanco e fui para a estação, Coimbra-b. O taxista que me levou era simpático. Ao chegar à estação ia a pensar que tinha que ligar aos meus pais, não lhes tinha dito que ia a Lisboa, imaginei que teria que ouvir coisas como "Vê lá não faças o exame à pressa por causa disso!" e outras legítimas preocupações do estilo. Mas não precisei de ligar porque na estação encontrei a minha mãe que levava o mesmo destino que eu e tinha bilhete para o mesmo comboio. Também não tinha dito nada porque não sabia se ia poder ir. Foi uma boa coincidência, embora por um triste motivo.

O funeral foi pequeno e militar, mais pequeno do que eu gostaria que fosse, mas em dia e horário de trabalho era complicado. Ainda assim reconheci muitas caras de camaradas do Partido e da JCP, esses terríveis orgulhosa e convictamente gonçalvistas que estranhamente ainda há no nosso País.

Tristemente há quem não tenha vergonha na cara e coube ao Coronel Vasco Lorenço falar no funeral do Vasco Gonçalves. Mas a superioridade moral é uma coisa incrível e, portanto, não pôde, esse "moderado", estragar a última homenagem que fomos prestar ao Companheiro Vasco.

O Governo decretou um dia de luto nacional e não pôs os pés no funeral, não me parece que tenha tido mais vergonha na cara que Vasco Lorenço, talvez só medo. Medo da comparação, Medo do exemplo.

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