18.11.11

Pessoas bonitas # 7



Não menosprezando o trabalho revolucionário dos homens, hoje trago à Eira "pessoas bonitas" que são mulheres do Couço.

Trago-vos mulheres que lutaram activamente pela jornada de oito horas nos campos do Alentejo.

Trago-vos:
Madalena Henriques
Maria da Conceição Figueiredo
Maria Galveias
Maria Rosa Viseu
Custódia Chibante
Olímpia Brás

Deixo cá também um relato de Maria Rosa Viseu, de um episódio de luta bem sucedido:

"Naquele tempo trabalhávamos de sol a sol. Saiamos de casa de noite, entrávamos em casa de noite.Outras vezes trabalhávamos de empreitada. Chegávamos ao trabalho os manageiros talhavam as empreitadas, quando as acabávamos íamos para casa. O patrão para quem nós trabalhávamos, não deixava o manageiro talhar as empreitadas, era ele que as talhava. Talhava-as muito grandes que nós quase nunca as acabávamos. Era ele que ia sempre despegar-nos do trabalho. Começámos a ver que o patrão nos queria enganar.Nenhuma de nós tinha relógio. Começamos a guiar-nos pela camioneta da carreira, que passava sempre às 5 h da tarde, era branca, toda branca, pensámos que não podíamos trabalhar mais tempo. Uma das mulheres sobe ao cabeço, vê passar a camioneta e diz para as companheiras: - a noiva já lá vai.Uma delas, mais idosa, pergunta ao manageiro: - então não nos despega? Olhe que já são horas!– Não tenho ordens para as despegar!- Ah não? Pois então despegamo – “se” a gente.Ela saltou de dentro do canteiro do arroz para o “combro” (parede de suporte de terreno em socalco) e 70 mulheres fizeram o mesmo e viemos para casa.No outro dia, ao nascer do sol, lá estava o patrão e nós negociamos com ele. Se não nos viesse despegar a horas, não trabalhávamos mais. O arroz estava cravadinho de erva. O patrão, como precisava da gente, concordou.Foi sempre assim, tínhamos de lutar por tudo, até para ter a cozinha à sombra. O patrão queria que a cozinha ficasse o mais perto do trabalho, para não perdermos tempo no caminho. Não se importava que comêssemos ao sol ou à sombra. Sofremos muito!"

Levadas pela PIDE, espancadas e torturadas por lutarem pelo direito à família, ao descanso, ao convívio, à recompensa do seu trabalho, à igualdade, à dignidade ao fim ao cabo.
Eram todas operárias agrícolas do Couço. Todas menos letradas do que quase toda a população portuguesa, mas com consciência de classe e com a certeza de que tinham direitos e tinham razão! Todas muito mais sabedoras do que a maioria da população portuguesa!

São todas "pessoas bonitas". São lindas!

Dia 24 de Novembro é dia de Greve Geral!


Um comentário:

  1. Como se demonstra muito bem, por comparação com a sonolência reaccionária destes tempos lusos, as mulheres do Couço e de outros lados não precisavam de licenciaturas para aderirem à luta social pela Revolução. Por acaso, também já foi assim com a imensidade dos soviéticos de Outubro. Antes de mais a prioridade é ter, como se assinala bem, CONSCIÊNCIA DE CLASSE.

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