18.5.09
Se nos fue Benedetti
Há uns anos, numa das típicas conversas nonsense (ou talvez não tanto) da mesa de jantar da minha família, o meu pai e eu chegámos à conclusão que devia haver uma instituição chamada Human Left Swatch. Isto num trocadilho sobre o Human Rights Watch e a conhecida marca de relógios.
Claro que contava com nós os dois como sócios.
Como europeia pouco conhecedora da literatura Latino-Americana só anos mais tarde soube da existência de Mario Benedetti (sobre o qual já escrevi outro post) que escreveu
Ahora todo está claro
Cuando el presidente carter
se preocupa tanto
de los derechos humanos
parece evidente que en ese caso
derecho no significa facultad
o atributo
o libre albedrío
sino diestro
o antizurdo
o flanco opuesto al corazón
lado derecho en fin
en consecuencia
¿no sería hora
de que iniciáramos
una amplia campaña internacional
por los izquierdos humanos?
A partir do momento em que li este poema acalentei a esperança de poder convidar o Benedetti para o Human Left Swatch.
Hoje à tarde recebi uma mensagem de um amigo que dizia "Se nos fue Benedetti, Ana :(". Fiquei verdadeiramente triste, era uma das minhas personagens preferidas deste continente e deste povo que eu continuo a considerar uno apesar da sua diversidade.
Reconhecidamente brilhante tanto na poesia como na prosa e no teatro, apesar de ter visto interrompidos os seus estudos por motivos financeiros. Progressista e humanista da América Latina e do Mundo. Impulsionador da produção cultural e da mudança social. Sofredor de ditaduras e de um exílio longo e penoso, foi até ao fim da sua vida um defensor da dignidade humana, firme e fiel aos seus princípios. Vale a pena ler os textos tanto de José Saramago como de Pilar del Río sobre o seu falecimento.
Aos 88 anos, e padecendo de problemas respirtórios e digestivos há algum tempo, já tinha sofrido suficientes contrariedades na vida. Como humanista que era não podia estar vivo e não ter contrariedades. Foi-se-nos, com certa justiça, tem direito ao descanso e deixou-nos um grande legado escrito. Grande e bom, que faz pensar e sentir, que, de alguma forma, nos leva a procurar crescer enquanto pessoas. Mas eu, de forma bastante egoísta, gostava que ainda cá ficasse mais uns tempos.
Adeus, Mario.
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Que triste! Mais um para a galeria dos nossos companheiros universais eternos. Eu ponho-o ao lado do Allende. E isso significa para mim uma imensidade de homenagem.
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