A casa onde moro tem um jardim. Não é um jardim grande e é todo murado, o que me impede de ver as montanhas, mas tem relva e eu gosto dele. Quando arrendámos a casa havia quatro plantas (além da relva e algumas ervas daninhas): um cedro (desses ciprestes magrinhos dos cemitérios de uns 60 cm), duas trepadeiras raquíticas mal agarradas ao muro oeste e uma planta de flores cor de rosa/arroxeado que não sei como se chama com um suporte feito de tubo de água, desses metálicos (não sei qual é o material ao certo). Como disse, gosto do meu jardim e portanto comecei a preenchê-lo um bocadinho mais, com alguns contributos de um dos meus companheiros de casa. Agora tem quatro roseiras, cravos túnicos, margaridas, uma madresilva, outra trepadeira, uma orquídea, umas quantas plantas em vasos suspensos, um arbusto de "huele de noche" e dois arbustos de brincos de princesa que atraem os colibrís (infelizmente ainda não consegui fotografar nenhum mas gosto muito desses diminutos visitantes). Na parte de trás da casa está o pátio de serviço com o tanque, as cordas da roupa e um rectângulo de terra de reduzidas dimensões. Aí tenho coisinhas comestíveis diversas (tomateiros, alfaces, tomilho, alecrim, hortelã, coentros, cebolas e alhos) em estadios de desenvolvimento diversos, mas maioritariamente iniciais. Vou ter muitas saudades do meu jardim quando me for embora, vou, vou. (aqui há algumas fotos do jardim).
Na verdade. para este texto, o que importa mesmo é a relva. Naturalmente não tenho um cortador de relva e apará-la com uma catana de mato dá cabo das costas. Por isso, de vez em quando (com uma periodicidade variável dependendo da época do ano, se seca, se de chuvas) vem um senhor cortar a relva e chama-se Alfonso.
O don Alfonso é um senhor bem disposto e conversador, dos seus 40 e tal, 50 anos que uma vez, conversando sobre como as plantas cresciam muito mais depressa na época de chuvas, me disse:
"Las plantas siempre crecen mejor con la lluvia que cuando las riega uno. Es que el agua que viene del cielo trae mucha bendición!"
Na altura achei que era uma boa tirada e que, de facto, a água das chuva parecia fazer crescer melhor as plantas que quando eu as regava. Claro que há-que considerar que a época de chuvas coincide com o maior fotoperíodo neste caso, mas de qualquer modo era uma boa frase. Pelo menos tive essa opinião até há uns dias. Há uns dias estava quase a chegar a casa de bicicleta e caiu uma granizada valente. Acelerei enquanto os pedaços absurdamente grandes de gelo me magoavam cara e mãos e cheguei a casa. No dia seguinte constatei que a bendição tinha sido tanta que cebolas, cravos túnicos e alfaces tinham ficado com as folhas irremediavelmente partidas (as alfaces tinham talvez metade da área foliar que tinham desenvolvido até ali). A partir de então voltei à minha presunçosa sobranceria em relação aos ditados dos crentes...
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