3.5.09

Epidemias e valor político

O número de consultas por sintomas de gripe A diminuem de 200 e qualquer coisa para 40 diárias do Distrito Federal e não se registaram mais casos novos.
As agências farmacêuticas já enriqueceram e asseguraram que vão continuar a enriquecer com o desenvolvimento e a producção massiva da vacina contra a gripe A. O próprio presidente Obama já disse que podia ser que a gripe A poderia voltar mais virulenta no Outono (aqui no El Universal). Curiosamente a gripe A tem uma taxa de infecçção menor do que a gripe convencional e de mortalidade também.
Entretanto, no México como nos EUA a crise económica saiu das primeiras páginas dos jornais e a população une-se na luta contra o terrivel vírus e o desgoverno de Felipe Calderón e do Partido Acción Nacional é mais ou menos esquecido. Da mesma forma ficam justificados os novos empréstimos ao Banco Mundial, endividando ainda mais uma nação que já tinha a coluna vertebral permanentemente dobrada pelo peso da dívida externa anterior. Mas desta vez não há problema, tudo seja pela saúde de uma população atormentada por uma verdadeira epidemia de pânico.
Igualmente, e ao bom estilo estadunidense, que isto de ter o manda-chuva coladinho ao Norte faz com que alguns bons costumes se adquiram por osmose, numa semaninha só aprovaram-se 25 leis controversas que praticamente não tiveram cobertura mediática. Isto porque um dos proincipais efeitos do vírus afinal não é a febre, é a redefinição de conceitos porque a seccção política dos jornais ultimamente parece a secção de saúde e tudo ficaria bem se a secção de saúde fosse política, mas não. Pelos vistos a desinformação política da população é um poderoso anti-viral, é curioso que não apareça recomendada directamente pela OMS.
Verdade seja dita a OMS também vai cumprindo o seu papel: lá vai dizendo que a pandemia é eminente, que passámos do nível 4 para o 5 numa escala de 6 (e não diz a ninguém o que isso significa) mas que não é preciso fechar fronteiras! E afinal em que ficamos? Há pandemia ou não há?
Entretanto em Burkina Faso morrem centenas de pessoas por uma epidemia de sarampo e meningite (notícia aqui), doenças para as quais existem vacinas. Mas isso não é assunto para a OMS, nem para a solidariedade internacional e menos para empréstimos milionários. Convém não esquecer que a doença (ou a saúde) também é uma questão de classe (e de conveniência política).

Um comentário:

  1. Em capitalismo há uma diferença fundamental entre a ética que a classe dominante defende e a que pratica. Será isto um sinal de que existe mesmo um embrião para a mudança? Serásó preciso encontrar os cotilédones e o terreno?

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